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Crise “apagou o Natal” na Venezuela

24 de dezembro de 2017 às 09:48

Portugueses na Venezuela queixam-se de que a crise político-económica tornou tudo tão caro que é impossível uma consoada como dantes.


Portugueses na Venezuela queixam-se de que a crise político-económica "apagou o Natal" no país, onde está tudo tão caro que é impossível uma consoada como dantes e onde já nem se vêem luzinhas nas ruas. "Oxalá tudo fosse como antes, como no tempo de Carlos Andrés Pérez, quando éramos felizes e não sabíamos", disse uma luso-venezuelana à Lusa, fazendo referência ao líder de Ação Democrática que presidiu a Venezuela em duas oportunidades e que em 1989 implementou um pacote de medidas económicas que desencadeou uma violenta explosão social, conhecida como El Caracazo.

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Foto: REUTERS/Marco Bello
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Foto: REUTERS/Andres Martinez Casares
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Foto: REUTERS/Andres Martinez Casares
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Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins

Com nostalgia, Violeta Soares, doméstica de 67 anos, lembrou que no passado "não era preciso fazer filas para conseguir alimentos, para o pão, para conseguir leite, açúcar, café, arroz, margarina…". "Eram outros tempos. Havia fartura. Na mesa de Natal havia salada de galinha, pão de fiambre, pernil assado, doce de papaia, broas e bebidas. Hoje, nem Coca Cola se consegue nas lojas e ninguém bate à porta para que proves um bolo, porque ou não há ingredientes ou está tudo tão caro que é apenas para os que vivem em casa", explicou.

No Mercado de Chacao, Manuel Pérez, de 62 anos, desabafava que "tudo está tão caro". "Andei a comprar coisas para as ‘hayacas’ (prato típico do Natal venezuelano) e tive de fazer contas, porque o dinheiro não chega para nada. Não cheira a Natal. Em casa éramos cinco, eu, a mulher, a filha, o genro e o neto. Eles emigraram e fiquei só com a mulher e, mesmo assim, se não fosse a ajuda que me mandam passaríamos fome", lamentou.

Para o luso-descendente José Freitas, engenheiro informático de 30 anos, neste natal "não há nada que celebrar, está tudo tão mau no país que nem luzinhas se vê nas ruas". "Perdi mais de 11 quilogramas em quatro meses. Para conseguir carne tenho de perder a noite para fazer fila. Hoje tudo está a um preço e amanhã a outro. Dizem que em Janeiro o salário mínimo vai aumentar, mas isso não nos alegra, porque depois os preços disparam", explicou.

Com um carro parado há três meses por falta de uma peça, sonha "emigrar um dia para Portugal". "Mas depois a realidade sacode-me e lembra-me que não posso pagar uma viagem, que é preciso euros e que não posso deixar para trás a mulher e o bebé de dois anos". "Apagou-se tudo, o Natal, a esperança, a qualidade de vida e o futuro. Na Venezuela estamos deprimidos. Quem pode pensar em festejar vendo como tudo piora diariamente", questionou.

Vários portugueses explicaram à Lusa que as ruas venezuelanas reflectem a crise no país: Salvo raras excepções, as pessoas deixaram de colocar adornos nas janelas, luzes nos beirais, nas árvores dos quintais e nas varandas dos apartamentos. "Os que ainda podem, farão uma ceia mais modesta, que terminará em solidão e na saudade dos tempos em que vizinhos e amigos compartilhavam" estas festividades.

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