Secções
Entrar

Covid-19: Líderes da UE discutem plano de retoma ainda sem acordo à vista

23 de abril de 2020 às 08:09

Quase um mês depois após a anterior cimeira, os líderes da União Europeia voltam a reunir-se por videoconferência.

Os chefes de Estado e de Governo da União Europeia discutem hoje um plano de recuperação económica para superar a crise da covid-19, mas as soluções de financiamento dividem os 27 e dificultam um acordo imediato.

Quase um mês depois após a anterior cimeira (26 de março), marcada por fortes desavenças sobre como a Europa deve responder à crise, e no fim da qual os líderes se limitaram a mandatar o Eurogrupo a prosseguir os trabalhos, os líderes da UE voltam a reunir-se por videoconferência, desta feita já com propostas concretas sobre a mesa acordadas pelos ministros das Finanças sobre a resposta de emergência, num pacote com um montante global de 500 mil milhões de euros, mas com o grande plano de reconstrução ainda em aberto.

Os líderes europeus deverão adotar o pacote de emergência acordado pelos ministros das Finanças, constituído por três "redes de segurança": uma linha de crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade, através da quais os Estados-membros podem requerer até 2% do respetivo PIB para despesas direta ou indiretamente relacionadas com cuidados de saúde, tratamentos e prevenção da covid-19, um fundo de garantia pan-europeu do Banco Europeu de Investimento para empresas em dificuldades, e o programa «Sure» para salvaguardar postos de trabalho através de esquemas de desemprego temporário.

No entanto, relativamente ao fundo de recuperação, que o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, estima que tenha de ascender a pelo menos o duplo do montante da resposta de emergência, ou seja, 1 bilião de euros - valor que parece reunir consenso generalizado -, o Eurogrupo 'passou a bola' de novo aos chefes de Estado e de Governo, cabendo a estes definir os moldes e envergadura do mesmo, pelo que se adivinha nova discussão acesa em sede de Conselho Europeu, já que persistem as diferenças entre os 27 sobre como financiar tal plano para contrariar a forte recessão que se adivinha este ano (na ordem dos 7,5% na zona euro e 7,1% no conjunto da União, segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional).

As ideias para já são muitas, desde a emissão conjunta de dívida, os chamados 'eurobonds' ou 'coronabonds', que Itália continua a reclamar (mas que países como Alemanha e Holanda rejeitam liminarmente), aos 'recovery bonds' propostos pelo Parlamento Europeu (títulos de dívida emitidos pela Comissão Europeia e garantidos pelo orçamento comunitário), passando pelo fundo de 1,5 biliões de euros financiado pela emissão de divida perpétua sugerido por Espanha.

Já Portugal defende que o plano de recuperação da economia europeia deve ser parte do orçamento europeu, financiado por um empréstimo a contrair pela UE distribuído pelos Estados-membros sob a forma de subvenções.

"Portugal inclina-se naturalmente para todas as soluções que permitam não sobrecarregar os Estados-membros com dívidas excessivas", declarou esta semana o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, defendendo que "seja a própria União Europeia a contrair o empréstimo indispensável para alavancar esse fundo", para que todos possam beneficiar das "condições excelentes" da UE para se financiar.

Também o presidente do Eurogrupo, o ministro das Finanças português Mário Centeno -- que participará igualmente na videoconferência de quinta-feira -, defendeu na terça-feira, perante o Parlamento Europeu, que os Estados-membros devem deixar as "velhas linhas vermelhas" e concentrarem-se em acordar uma "solução comum" para gerir o peso da dívida associado plano de recuperação da economia europeia.

Na carta-convite dirigida aos líderes, o presidente do Conselho Europeu exorta os 27 a adotar o pacote de emergência acordado pelo Eurogrupo, de modo a que as três "redes de segurança" estejam já operacionais o mais tardar em 01 de junho, e quanto ao fundo de recuperação propõe que seja dado um mandato à Comissão Europeia "para analisar as necessidades exatas" e apresentar em breve uma proposta "à altura do desafio".

Segundo Charles Michel, "a proposta da Comissão deve clarificar a relação com o Quadro Financeiro Plurianual [o orçamento da UE para 2021-2027], que estará sempre no cerne da contribuição da UE para a recuperação e que terá de ser ajustado para lidar com a atual crise e as suas consequências".

"É fundamental que discutamos estas questões de forma aberta entre nós e avancemos com sentido de urgência [...] É minha convicção que devemos mostrar ainda maior determinação em superar as nossas diferenças", escreve o presidente do Conselho, numa clara alusão às divergências profundas que se registaram nas últimas cimeiras, designadamente entre os países 'frugais' e os 'amigos da coesão', e entre os Estados-membros do norte e do sul da Europa.

A cimeira por videoconferência, na qual Portugal estará representado pelo primeiro-ministro António Costa, tem início agendado para as 15:00 de Bruxelas (14:00 em Lisboa).

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela