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Bolsonaro nomeia para equipa de transição dono de empresa envolvida em fake news

06 de novembro de 2018 às 14:32

Marcos Aurélio Carvalho explicou que vai "ajudar na comunicação" da equipa e enviou um comunicado à imprensa brasileira na qual afirmou que todas as acções da campanha de Bolsonaro foram "regulares".

O presidente brasileiro eleito, Jair Bolsonaro, nomeou para a sua equipa de transição um dos donos da AM4, a maior prestadora de serviços da sua candidatura, envolvida na polémica divulgação de fake news em massa pelo WhatsApp.

Marcos Aurélio Carvalho é um dos 28 nomes que foram publicados na segunda-feira no Diário Oficial da União como membro da equipa de transição do novo governo de Jair Bolsonaro, sendo que 22 desses nomes foram indicados pela transição e cinco pelo governo de Michel Temer (actual presidente do Brasil), por já serem funcionários públicos.

O salário de Marcos Carvalho será de 9.926,60 reais (cerca de dois mil euros) durante a transição governamental. O empresário participou na reunião da equipa de transição realizada nesta segunda-feira, em Brasília, com os futuros ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, da Defesa, general Augusto Heleno, e da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, segundo o jornal Folha de São Paulo.

Carvalho explicou que vai "ajudar na comunicação" da equipa e enviou um comunicado à imprensa brasileira na qual afirmou que todas as acções da campanha de Bolsonaro foram "regulares".

A campanha de Bolsonaro apresentou, há uma semana, ao Tribunal Superior Eleitoral, um gasto adicional de 535 mil reais (cerca de 126 mil euros) com a AM4 Brasil Inteligência Digital, empresa em que Marcos Aurélio Carvalho é sócio. Segundo os dados disponíveis até ao momento, este valor tornou a companhia como a maior prestadora de serviços da candidatura do capitão reformado e candidato da extrema-direita. O gasto com a empresa soma 650 mil reais (cerca de 153 mil euros) na primeira e segunda voltas das eleições presidenciais.

O candidato derrotado à presidência do Brasil Fernando Haddad denunciou no dia 18 de Outubro um suposto esquema ilícito envolvendo o seu adversário Jair Bolsonaro e empresários que teriam patrocinado a divulgação de mensagens "mentirosas" pela rede social WhatsApp. "Identificámos uma campanha de difamação no WhatsApp e, dada o volume de mensagens sabíamos que havia dinheiro sujo. Hoje o Folha de São Paulo traz provas de que de facto houve a montagem de uma organização criminosa de empresários que via caixa 2 [Notes:dinheiro não declarado à Justiça eleitoral] promoveu esta campanha de difamação, tentando cometer fraude e acabar com a eleição na primeira volta", disse o candidato do PT à imprensa brasileira, quando faltavam apenas dez dias para a segunda volta da eleição. A prática é ilegal, pois trata-se de doação de campanha por empresas, vedada pela legislação eleitoral, e não declarada, de acordo com o jornal que denunciou o esquema.

A assessoria de imprensa da empresa AM4 afirmou ao jornal Folha que não contratou a suposta divulgação de conteúdos via WhatsApp e que o pagamento de 535 mil reais se deveu ao aumento do seu trabalho na segunda volta da corrida eleitoral, "quando o candidato Bolsonaro passou a ter tempo de rádio e televisão e a AM4 também passou a dirigir os filmes da campanha". No entanto, no dia 26 de Outubro, a AM4 admitiu ao site de notícias UOL que contratou serviços de divulgação de informação em massa (nas redes sociais), mas sem objectivos eleitorais.

Esta não foi a única escolha de polémica de Bolsonaro, que optou pelo juiz Sérgio Moro para assumir o comando da pasta da Justiça. O juiz abandonou esta segunda-feira a Operação Lava Jato, através de um ofício dirigido ao Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, com sede no estado brasileiro do Rio Grande do Sul, tendo posteriormente entrado em período de férias.

No âmbito dessa operação foram presos ainda outros importantes políticos e empresários, além de Lula da Silva, condenado por corrupção e que se encontra a cumprir pena de 12 anos de prisão em Curitiba.

Após a segunda volta das eleições, Moro felicitou Bolsonaro e desejou "um bom Governo", destacando a importância de realizar "reformas para recuperar a economia e a integridade da administração pública".

O nome de Moro já foram avançado pela comunicação social brasileira para integrar o próximo Governo do Brasil, mas o magistrado judicial negou sempre a possibilidade de entrar na política.

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