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Aplicação “dá vida” a fotografias de familiares mortos

Alexandre R. Malhado 02 de março de 2021 às 14:56

Empresa de genealogia aposta em filtro de vídeo que coloca qualquer pessoa morta a sorrir ou a piscar o olho. Académicos levantam problemas éticos.

Há uma tecnologia que quer dar vida aos mortos – pelo menos nas fotografias. Desenvolvida pela empresa de genealogia My Heritage, a opção "Deep Nostalgia" recorre a inteligência artificial e reconhecimento facial para animar fotografias antigas, esteja a pessoa viva ou morta, colocando-as em vídeos a sorrir, piscar o olho e acenar com a cabeça.

"Ver a cara dos nossos amados antepassados a ganhar vida, e imaginar como é que eles eram na realidade, dará um significado mais profundo à forma como nos ligamos à história das nossas famílias", disse o fundador da MyHeritage, Gilad Japhet, citado num comunicado. Nas redes sociais, vários utilizadores já usaram a aplicação com figuras históricas como o cientista Albert Einstein ou a rainha egípcia Nefertiti. 


O tema não é, de todo, consensual – e já está a gerar uma discussão ética. "Quando as pessoas começarem a rescrever a história ou a animar o passado… temos de pensar onde é que isso vai acabar", avisa Elaine Kasket, professora de psicologia na Universidade de Wolverhampton, no Reino Unido. Autora de um livro sobre o "digital pós-mortem", a académica acredita que, apesar deste tipo de tecnologia não ser necessariamente "problemático"per se, há um "caminho perigoso" que se está a tomar.

A My Heritage admite que a aplicação possa ser vista como "macabra" ou "controversa". Contudo, garante que foram tomadas precauções para não existirem abusos. Segundo a empresa, foi retirada a opção discursiva aosdeep fakes. "Sem poder dizer nada, não dá para transmitir conteúdo ou mensagens falsas", diz o diretor de relações pública da empresa, Rafi Mendelsohn. De acordo com académicos, não é bem assim: "Imagine que alguém tira uma fotografia daÚltima Ceiae mete Judas a piscar o olho à Maria Madalena", disse à agência Reuters o professor Faheem Hussain, da faculdade de inovação da Arizona State University.

Este tipo de abordagem à inteligência artificial não é novidade. O ano passado, o rapper Kanye West ofereceu à sua mulher Kim Kardashian um holograma do seu falecido pai, Robert Kardashian, a congratulá-la pelo aniversário e por se ter casado com "o homem mais, mais, mais, mais, mais, mais genial de todo o mundo."

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