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A ascensão de Sohei Kamiya, apelidado de “Trump japonês"

Sofia Parissi 22 de setembro de 2025 às 07:00

Nas últimas eleições, o partido Sanseito passou de um assento parlamentar na câmara alta japonesa para 15. O líder, Sohei Kamiya, diz admirar as políticas de Trump.

“Os japoneses em primeiro lugar” foi uma das frases que marcou a campanha do político japonês Sohei Kamiya, líder do partido Sanseito, que tem sido associado à extrema-direita e ao ultranacionalismo. Semelhante a um dos lemas usados por Donald Trump ("America First"), o slogan vai ao encontro das políticas de imigração e de antiglobalização defendidas pelo partido. De acordo com o Financial Times, Kamiya chegou a elogiar o "estilo ousado" do presidente dos EUA.
Sohei Kamiya, líder do Sanseito, defende políticas de imigração restritas no Japão Kyodo News via AP
O Sanseito começou por ter apenas um lugar na câmara alta do Japão, mas nas eleições para o parlamento, em julho deste ano, conquistou 15 dos 248 assentos. O Partido Liberal Democrático (PLD), do primeiro-ministro Shigeru Ishiba, perdeu a maioria na câmara e terá agora que negociar com os partidos minoritários de oposição. e as eleições internas devem acontecer em outubro. Estes resultados contrariam a tendência no Japão, que é conhecido pela sua estabilidade política. O PLD governa quase continuamente desde a sua fundação em 1955, mas os últimos resultados revelam vontade de mudança por parte dos eleitores mais jovens. A insatisfação com o governo parece estar relacionada com o aumento do número de imigrantes, que tem sido um dos assuntos mais discutidos no Japão: a população estrangeira do Japão atingiu os quatro milhões no início deste ano. Estes dados, assim como a desaceleração económica do país, a inflação e o aumento dos turistas - em 2024, 37 milhões de pessoas visitaram o país, de acordo com a Organização Nacional de Turismo - são apontadas como razões para o descontentamento. A população de cidadãos japoneses também caiu para 120,6 milhões, de acordo com dados governamentais. "Se (a migração) ultrapassar 10% da população total, isso vai-se tornar um grande problema”, disse Kamiya, citado pelo jornal The Guardian. “Neste momento, a vida dos japoneses está cada vez mais difícil”, afirmou. O líder do Sanseito já foi acusado de xenofobia, mas negou que o país quisesse expulsar imigrantes. "Colocar os japoneses em primeiro lugar não significa expulsar os estrangeiros – algo de que fui acusado de apoiar. Trata-se, sim, de antiglobalismo”, referiu, citado pelo jornal inglês. O político japonês também foi criticado depois de afirmar que as políticas de igualdade de género contribuem para que as mulheres tenham menos filhos. "É claro que as mulheres trabalharem é ótimo. Mas fomos longe demais com a mentalidade de que todos devem trabalhar", disse, citado pelo jornal japonês Asahi Shimbun. Por outro lado, sobre a globalização, afirmou durante um comício: “Se falharmos em resistir à pressão estrangeira, o Japão vai tornar-se numa colónia”. Kamiya tem vindo a argumentar que são necessárias mais restrições à imigração e o partido também defende um aumento dos gastos com a defesa e a remilitarização do Japão.

A origem do Sanseito

O partido Sanseito, que se traduz para "participe na política", foi criado por Sohei Kamiya, ex-gerente de supermercado e ex-militar das Forças de Autodefesa do Japão. Tudo começou em 2020, através da criação de um canal no Youtube, que ficou conhecido por espalhar teorias da conspiração sobre a covid-19 e as vacinas. Em 2022, Kamiya foi o único membro do seu partido a ser eleito para a câmara alta. 
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