Dupla de voluntárias do Porto ajuda refugiados fora dos campos no norte da Sérvia
Os refugiados "veem-se privados do acesso a um direito inerente ao ser humano", observam as voluntárias Susana Costa e Teresa Costa.
A comunidade Refugees Welcome Portopresta apoio a refugiados na cidade portuguesa desde 2015, mas o grupo de jovens abriu fronteiras e tem agora duas voluntárias no norte daSérvia, a trabalhar com migrantes fora dos campos.
Dez quilómetros separam a cidade de Subotica, na Sérvia, da Hungria, mas a cerca de arame farpado que divide os dois países - construída no verão de 2015 pela administração húngara - acentua o desafio de entrar no espaço da União Europeia (UE).
"Eles aqui chamam ao processo de passar a fronteira o 'Game'. É um jogo de probabilidades", contou à Lusa Susana Costa, 28 anos, uma das duas voluntárias da comunidade Refugees Welcome Porto (RWP) que está no norte da Sérvia.
Depois da redução da chegada de migrantes ao Porto, a RWP, pertencente à internacional Refugees Welcome, passou a ser uma plataforma 'online' de sensibilização, nomeadamente através da página das redes sociais Facebook e Instagram, que leva agora a cabo ações de voluntariado no espaço europeu.
Foi num campo de refugiados na cidade de Bihac, na Bósnia-Herzegovina, que Susana Costa e Teresa Costa (25 anos), coordenadoras do projeto, ficaram a par da situação na fronteira norte da Sérvia - onde a RWP atua desde maio, numa parceria com a organização espanhola Escuela con Alma.
"Fornecemos apoio aos migrantes fora dos campos de refugiados", afirmou Susana Costa, explicando: "Na Sérvia, existem vários campos de refugiados geridos pelo governo, mas o objetivo deles [refugiados a que a RWP presta auxílio] não é pedir asilo na Sérvia, o objetivo é passar a fronteira o mais depressa possível. O campo é um espaço de vigilância, com organizações que controlam o que fazem".
A voluntária, mestre em Mediação Intercultural, aponta para "cerca de 120 refugiados", na sua maioria "pessoas não acompanhadas, adolescentes e adultos do sexo masculino", que ocupam espaços abandonados em duas áreas da cidade de Subotica.
Nestes locais, "não têm luz, não têm água corrente, não têm o mínimo de condições de higiene", acrescenta Teresa Costa, de 25 anos, que perfaz a dupla de voluntárias portuenses que providencia "lavagem da roupa, baterias, primeiros socorros e um serviço de chuveiros portáteis".
Tendo começado a fazer voluntariado no estrangeiro em Itália, em 2014, para "perceber o que eram refugiados", numa experiência que considera "motor para tudo o resto", Susana volta uma e outra vez a situações-limite deste tipo, mas não o entende como um regresso.
"Acontece um pouco com toda a gente que faz trabalho humanitário. É algo que não entendes como um fim. Nunca deixei de estar envolvida, quer em Portugal, à distância, quer nos campos. Não considero que regressei, porque sempre estive envolvida nestas causas e principalmente na temática dos refugiados", afirma.
Susana diz ser esta intervenção na Sérvia a "mais desafiadora" até agora, com "um grau de responsabilidade superior", visto que não atuam outras entidades fora dos campos naquela zona.
Os refugiados, assegura a jovem, "não estão na cidade e lembram-se de passar a fronteira. Há uma organização, há pessoas que facilitam esse processo - os chamados 'smugglers' [contrabandistas] - e eles passam a fronteira da forma mais discreta possível, escondidos em comboios e camiões".
"Conhecemos quem já tentou o 'Game' 14 vezes", continua, "e cada vez que regressam é uma derrota, muitas vezes com marcas físicas de violência, mas vão tentar até conseguir, porque no fundo a vida deles depende disso", considera a voluntária de 28 anos.
Segundo as jovens da RWP, as idas ao hospital são também uma "roleta russa", dado que os refugiados sem registo "não têm direito a apoio médico" e lhes pode ser recusado tratamento, bem como serem denunciados às autoridades.
"Veem-se privados do acesso a um direito inerente ao ser humano", observam.
O trabalho das voluntárias no terreno é sustentado por campanhas de angariação de fundos na comunidade online da RWP e atualmente promovem vales solidários com valor correspondente a necessidades reais de migrantes sinalizados, para "as pessoas perceberem de forma prática em que é que o seu contributo vai ser materializado", explica Teresa, mestre em Intervenção Psicossocial.
"Falta muito apoio em muitos lados", nota, e remata: "é muito visível a nível mundial que é um problema crescente, a motivação é saber que essas pequenas coisas que fazemos fazem diferença. Distribuir comida, roupa, proporcionar coisas tão simples como um banho".
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