Um livro inédito de Miguel Esteves Cardoso, o Prémio Leya 2024, a estreia em Portugal do escritor alemão Ewald Arenz e da cineasta norte-americana Miranda July, e a reedição de clássicos esgotados são alguns dos destaques editoriais de abril.
Cartas para a Vila Berta, a ser publicada pela Bertrand, é uma obra que está inédita há quase 50 anos e que consiste numa compilação de cartas que Miguel Esteves Cardoso escreveu ao seu amigo Carlos Vilela, que morava na Vila Berta, em Lisboa, e que nunca lhe respondeu.
"Quem foi Miguel Esteves Cardoso, dos 20 aos 24 anos? Tudo quanto sentiu e pensou está aqui, pelo punho do próprio, ou batido numa Olivetti Lettera32, no pós-25 de Abril, a partir de Manchester, onde se licenciou em Estudos Políticos com nota máxima e, mais tarde, se doutorou em Filosofia Política, com igual distinção", destaca a editora.
Estas cartas incluem reflexões do autor sobre a vida, a política e a cultura, abordando temas tão variados como a "obsessão com a foleirice, a crueldade juvenil em relação à miséria dos outros, o gosto por ser discriminatório, as opiniões políticas controversas, de Salazar a Mussolini, o início da colaboração com jornais, uma entrevista a Leonard Cohen, um passeio pela Escócia, o desprezo por quase todos os autores portugueses ou o terror quanto a uma possível paternidade com uma senhora irlandesa".
De Quatro e o vencedor do Prémio Leya
Na Quetzal, uma das grandes novidades é a publicação de De quatro, da escritora, argumentista e realizadora norte-americana Miranda July, que é finalista do Women's Prize for fiction, além de ter figurado em muitas outras listas de candidatos a prémios literários, entre os quais o National Book Award para ficção.
A mesma chancela traz de regresso dois autores portugueses, André Canhoto Costa, com A corte das mulheres, que recupera a história de um grupo restrito mas poderoso de mulheres que comandava a vida intelectual na Corte portuguesa do século XVI, e João Pedro Vala, com Dicionário de Proust, uma obra sobre o essencial de Marcel Proust "para quem o leu, para quem nunca o leu e para quem o leu há muito tempo".
A Quetzal vai também reeditar a coleção Conta-Corrente, uma obra escrita em forma de diário de Vergílio Ferreira, começando este mês com o volume 1, que abarca o período entre 1969 e 1981.
A Leya apresenta como uma das grandes novidades, a publicação do romance vencedor do Prémio Leya 2024, Pés de barro, de Nuno Duarte, obra que tem como pano de fundo a construção da primeira ponte sobre o Tejo, em Lisboa, e traça um retrato do Portugal dos anos 1960.
A Dom Quixote vai lançar um romance que foi finalista do mesmo prémio em 2023, Passagem Noturna, da açoriana Leonor Sampaio da Silva, e no campo da literatura traduzida, publica O Lado Errado, de Davide Copo, sobre um jovem de boas famílias e sem traumas relevantes, que escolhe o caminho do extremismo político e do fascismo, bem como Seis Malas, de Maxim Biller, uma história sobre um enigma, que foi finalista do Prémio do Livro Alemão.
A Editorial Presença estreia em Portugal o autor alemão Ewald Arenz, com O perfume das peras selvagens, um romance aclamado pela crítica alemã, sobre o encontro e a relação improvável entre uma jovem anorética de 17 anos e uma mulher de 50 anos que fugiu do mundo e se afastou de todos, refugiando-se numa quinta, que cuida sozinha.
Mais Jon Fosse e Fernanda Melchor
À Alfaguara regressam as escritoras Jamaica Kincaid, autora de Annie John, desta vez com o romance Lucy, que tem no centro o tema dos laços familiares; e Fleur Jaeggy, com O medo do céu, compilação de sete histórias sombrias.
A Cavalo de Ferro publica A mulher nova, de Carmen Laforet (1921-2004), um romance precursor pelo retrato que traça de uma mulher que se rebela contra a sua condição e busca a sua independência na Espanha do pós-guerra, e mais um livro do Nobel da Literatura Jon Fosse, Casa de Barcos.
A escritora mexicana Fernanda Melchor, autora de Temporada de furacões, está de volta à Elsinore, que publica este mês o seu primeiro livro, Isto não é Miami, numa nova edição revista e com a inclusão de um texto inédito.
A Companhia das Letras estreia o ilustrador António Jorge Gonçalves no seu catálogo da coleção de não-ficção literária, com O caminho de volta, um ensaio escrito e desenhado pelo autor, nos dias que a mãe passou num lar, que coloca a imagem e o texto ao mesmo nível enquanto elementos narrativos.
Na mesma chancela sai A árvore mais sozinha do mundo, um novo livro da autora brasileira Mariana Salomão Carrara, que conta a história de uma família extenuada pelo trabalho numa plantação de tabaco, que luta para sobreviver à escassez de tudo e ao colapso climático.
Entre os destaques da Porto Editora conta-se a publicação do mais recente livro do escritor cubano Leonardo Padura, Ia a Havana, enquanto a Assírio & Alvim publica Lamento Por Uma Pedra e outros poemas, de W.S. Merwin, e Carta Sobre o Comércio dos Livros, de Denis Diderot.