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"All Her Fault": uma das séries do ano chega até nós

Protagonizada por Sarah Snook ("Succession"), esta série americana chega a Portugal depois de ser nomeada para dois Globos de Ouro. Estreia esta 2.ª feira, 15, na SkyShowtime.

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André Almeida Santos 14 de dezembro de 2025 às 18:00
Sarah Snook acaba de ser nomeada para o Globo de Ouro de Melhor Atriz pelo papel nesta série (também candidata a 'Melhor Minissérie' nestes prémios)
Sarah Snook acaba de ser nomeada para o Globo de Ouro de Melhor Atriz pelo papel nesta série (também candidata a "Melhor Minissérie" nestes prémios) Peacock

Megan Gallagher, escritora e argumentista, gosta de brincar aos medos familiares. Na série Predadores à Solta (HBO Max) desafiava-nos a pensar: e se o nosso lar fosse invadido por gente maldosa, sem um propósito que fosse tangível de imediato? All Her Fault, série que chega a Portugal e à plataforma SkyShowtime na próxima segunda-feira, 15 de dezembro (dia em que os primeiros dois episódios ficam disponíveis, com episódios a chegarem depois ao ritmo de um por semana) começa com uma mãe, Marissa (Sarah Snook, atriz cujo reconhecimento cresceu após interpretar Shiv Roy na série Succession), a bater à porta de uma casa para ir buscar o filho, que estaria lá a brincar com um amigo.

Porquê "estaria"? A morada está errada e, num espaço de minutos, percebe-se que algo de mal aconteceu e é bem possível que o filho tenha sido raptado. O terror de qualquer pai ou mãe carregado com a culpa do que levou àquele momento. Este é o ponto de partida para os oito episódios de All Her Fault

Minissérie que estreou nos EUA no mês passado, e que parte de um livro homónimo de Andrea Mara, All Her Fault chega a Portugal recém-nomeada para dois Globos de Ouro (Melhor Minissérie e Melhor Atriz, para Sarah Snook). E é, afirma-se já aqui, uma das grandes séries do ano. 

Gallagher afinou a receita de Predadores à Solta e voltou à ideia de misturar vários géneros e temas televisivos numa só série. O que torna All Her Fault tão poderosa é a subtileza com que a argumentista e criadora une todos os pontos. Começa com um rapto, lança dúvidas sobre dinâmicas familiares que parecem desatualizadas, termina o primeiro episódio com uma dica que deixa o espectador a interrogar-se sobre as motivações de um grupo de personagens e, quando volta a pegar nessa parte, no quinto capítulo, desestabiliza tudo: All Her Fault é sobre um rapto ou outra coisa qualquer?

Marissa vive num ambiente aparentemente estável. Tanto ela como o marido, Peter (Jake Lacy), têm ótimos empregos que pagam uma casa absurda nos subúrbios de Chicago. O filho tem uma ama, como outros miúdos da escola em que anda. A ama é uma necessidade das mães que trabalham. Percebe-se, pela amostra, que não há grande apoio dos maridos. Isso tanto é refletido por Peter como por Richie (Thomas Cocquerel), marido de Jenny (Dakota Fanning), a mãe que supostamente tinha organizado a brincadeira com Marissa. Sem entrar em detalhes sobre como o rapto se processa – porque seria estragar o bom ritmo do episódio inaugural -, vale só a pena dizer que Jenny está inocente (é coisa que se percebe de imediato).

Jenny e Marissa conhecem-se da escola dos miúdos e estabelecem laços pela forma condescendente como os maridos as tratam, por coisas que dizem como “és maravilhosa” ou “não sei como consegues” ou pela forma como estes ignoram os sacrifícios que elas fazem para manter as coisas funcionais. É logo por aqui que All Her Fault marca a diferença, na forma como mostra as dinâmicas de alguns casamentos, a independência de cada uma das partes e os desequilíbrios estruturais nas relações.

Dakota Fanning é outro dos nomes sonantes do elenco
O rapto de uma criança é o ponto de partida deste thriller
O ator Jake Lacy interpreta Peter, o marido da protagonista da série, Marissa (Sarah Snook)
Dakota Fanning é outro dos nomes sonantes do elenco
O rapto de uma criança é o ponto de partida deste thriller
O ator Jake Lacy interpreta Peter, o marido da protagonista da série, Marissa (Sarah Snook)

Estes momentos fazem-se notar. Contudo, são apresentados com uma certa contenção, deixando a marinar a ideia do título da série. Embora os maridos nunca digam às mulheres que algo é culpa delas, elas sentem o peso dessa culpa: tudo o que acontece com os filhos é da responsabilidade das mães. No caso do rapto, Marissa pesa todas as decisões que levaram àquele momento, seja a conveniência do encontro de amigos - porque precisava de trabalhar - seja, mais à frente, quando revisita uma ida à cidade para ter uma reunião de trabalho. A culpa não a persegue mas ela, por instinto, procura essa culpa. Por outras razões, Jenny também.

Bastaria a All Her Fault ser só isto para ser uma boa série. O que a torna distinta é tudo o resto que se vai metendo no enredo e que não é demais, que faz todo o sentido para a mão cheia de intrigas que alimentam este thriller. Nenhum momento ou cena da série parece estar lá para encher chouriços. Hoje em dia, mesmo só com oito episódios com pouco menos de uma hora cada, isso é um feito. Veja à confiança.

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