Qual é o objetivo da ICE?
Se conseguirmos um milhão de declarações de apoio de toda a União Europeia, iremos oficialmente pedir à Comissão Europeia que desenvolva regras para assegurar terapias assistidas por psicadélicos seguras, acessíveis e económicas aos pacientes; que estimule a investigação financiada pela UE a substâncias psicadélicas e o seu uso terapêutico; e que recomende aos Estados-membros uma posição comum sobre a classificação legal de psicadélicos a nível internacional. Corrigir esta classificação – de 1971 – iria alinhar as leis internacionais com a investigação moderna e tornar as substâncias psicadélicas mais acessíveis para terapias reguladas.
A seu ver, qual é o ponto de situação na Europa quanto ao uso e investigação do uso terapêutico dos psicadélicos?
A União Europeia ainda está atrasada em termos de aceitação pública e propostas de políticas, quando comparada a países como a Austrália, Canadá, EUA e Suíça. Mesmo se alguns Estados-membros – como os Países Baixos, República Checa, Espanha – estão a dar os primeiros passos, falta um reconhecimento e ação conjuntos. A falta disso pode levar a uma situação em que alguns cidadãos europeus têm acesso a terapias, enquanto outros ficam para trás. Contudo, o interesse está a aumentar, com alguns membros do Parlamento Europeu a apoiar abertamente as terapias assistidas por psicadélicos e a Agência Europeia do Medicamento a iniciar a discussão. Até temos o primeiro ensaio totalmente financiado pela UE de uso de psilocibina para tratar a ansiedade em cuidados paliativos. Por isso há progresso!
Quais são as substâncias mais promissoras?
De momento estamos em diferentes fases de ensaios clínicos, dependendo da substância e da doença mental em questão. O MDMA para tratar o stress pós-traumático e a psilocibina para tratar a depressão "major" e ansiedade estão entre as mais investigadas e os resultados são altamente promissores, quando combinados com psicoterapia. Isto fez com que a Austrália autorizasse o uso destas duas substâncias em 2023. A investigação está a florescer, com ensaios com LSD para tratar cefaleia em salvas, dimetiltriptamina para certos tipos de ansiedade e depressão, ou psilocibina aplicada à anorexia. Nos próximos anos, vamos ter resultados de ensaios clínicos que nos podem permitir alargar o campo do uso de psicadélicos em saúde mental, em especial nas doenças em que o tratamento se mantém relativamente inadequado.
O que diria a alguém que ainda não decidiu se vai ou não assinar a ICE?
Estamos a experienciar uma crise de saúde mental na Europa, que em muitos aspetos, se está a agudizar. Esta crise afeta-nos a todos, direta ou indiretamente, como indivíduos, famílias, comunidades e sociedade. Não podemos privar-nos das ferramentas que a ciência, ao contrário dos preconceitos da sociedade, indica serem seguras e eficazes dentro de certas regras. Mas são estes preconceitos que nos impedem, enquanto sociedade, de andar para a frente. Por isso, além de assinar a ICE, encorajo os que estão hesitantes em explorar os inúmeros recursos científicos e académicos disponíveis sobre o tema.