Surpreendido com o reembolso do IRS? Saiba o que pode ainda fazer
Reter na fonte ao longo do ano para não ter surpresas? "Pedir" ao Estado que guarde o dinheiro? São estratégias que pode adotar, explica uma especialista.
Imagine o cenário: por regra chegava a abril e estava a contar com algum dinheiro do IRS que o Estado lhe devolvia por o ter confiscado em demasia. Mas chegado a 2025, tem um choque. Faz a simulação e o Portal das Finanças informa-o que tem pouco a receber. Pode até ter de pagar mais imposto. Este cenário aconteceu a milhares de portugueses este ano. Se ainda não entregou a sua declaração de IRS, não o faça antes de ler as sugestões de Bárbara Barroso, diretora executiva do MoneyLab e especialista em Finanças Pessoais. Se já fez a entrega, guarde este artigo porque para o ano pode dar jeito.
Como não "pagar" o imposto
"A melhor forma de evitar surpresas desagradáveis na altura de entregar o IRS é ajustar atempadamente a taxa de retenção na fonte", começa por sugerir Bárbara Barroso. Desta forma, quem tem rendimentos do trabalho dependente pode solicitar que a entidade patronal faça um ajuste e retenha mais imposto.
Mas se decidir por isto está a abdicar do seu próprio dinheiro ainda que apenas de forma temporária. Todos os meses o Estado vai ficar com mais dinheiro seu do que aquele que devia e depois devolve-o na altura dos acertos. Bárbara Barroso resume esta solução da seguinte forma: "Assim, vai pagando "aos poucos" ao longo do ano, em vez de acumular uma dívida fiscal para o ano seguinte".
A especialista em finanças deixa ainda uma recomendação de que vá acompanhando regularmente a sua situação fiscal no Portal das Finanças e, "se possível", fazer simulações com base no rendimento anual estimado.
Quais as principais vantagens em reter na fonte?
A principal vantagem de reter mais na fonte é que ajuda o contribuinte a distribuir o esforço fiscal ao longo do ano, reduzindo o risco de uma surpresa na hora do acerto de contas (ou favorece a hipótese de haver uma surpresa agradável). "No fundo, em vez de acumular um valor a pagar em abril, o contribuinte vai saldando essa "conta" mês a mês", esclarece Bárbara Barroso.
Esta opção pode ainda facilitar a gestão do orçamento familiar, especialmente para quem tem "dificuldade em poupar por iniciativa própria". É uma solução que, no entender da especialista, é particularmente vantajosa para "quem não tem uma almofada financeira para responder a um pagamento inesperado", garantindo alguma previsibilidade e estabilidade financeira ao agregado familiar.
Estado-mealheiro ou mealheiro privado?
Existem mesmo pessoas que preferem que seja o Estado a fazer a poupança por eles, guardando o seu dinheiro, ou é apenas desconhecimento de como funciona o IRS? Bárbara Barroso considera que existem ambos os casos. "Por um lado, muitas pessoas sentem que, ao reterem mais e depois receberem um reembolso, estão a fazer uma poupança forçada — é quase como se o Estado guardasse o dinheiro por elas" e encaram isto como uma boa solução, principalmente as pessoas que têm dificuldade em controlar os gastos ou disciplinar a poupança. "Pode até ser uma estratégia útil", considera a diretora-executiva do MoneyLab.
Mas Bárbara Barroso reconhece que "há ainda muita iliteracia financeira no que se refere ao funcionamento o sistema de retenção na fonte e o cálculo do IRS". Segundo a especialista muitos contribuintes não percebem que "a retenção é apenas um adiantamento do imposto e não um valor definitivo". É por isso que defende a necessidade de investir no ensino da literacia financeira "para que as pessoas possam fazer escolhas mais informadas e alinhadas com os seus objetivos".
Outras recomendações
Existem várias formas de preencher o IRS, sendo o preenchimento automático a forma favorita de centenas de milhares contribuintes. Mas a verdade é que os especialistas avisam que não é a forma mais vantajosa para os cidadãos já que é um modelo com pouca atenção aos pormenores. Mas mesmo que acabe por decidir fazer a entrega de forma automática, é essencial que confirme os dados no final, nomeadamente no que diz respeito ao agregado familiar, às despesas à coleta e ao rendimento coletável, já que muitas vezes existem erros nesses dados.
Já se quiser a ajuda de um especialista, como milhares de portugueses, existem vários disponíveis. Este ano registou-se um aumento significativo de pessoas que pedem ajuda a contabilistas para fazer a entrega de forma a conseguirem maximizar os ganhos. "Normalmente já éramos solicitados para o preenchimento da declaração, mas este ano, como está mais complexo, e com a redução do reembolso, as pessoas estarão com receio de estar a fazer algo mal, recorrendo a profissionais", comentou a bastonária dos contabilistas na semana passada.
O valor médio para preenchimento de uma declaração de IRS por um profissional começa em torno dos 30 euros, de forma generalizada, havendo uma hipótese de poder recuperar esse valor no reembolso. Mas há também vários cursos online gratuitos (e pagos) que ensinam estratégias para maximizar o que tem a receber.
Edições do Dia
Boas leituras!