Quem é Carlos Tavares, o português que deixou a liderança da Stellantis?
Já foi diretor de operações da Renault, diretor do conselho administrativo e diretor executivo do PSA e chegou a França ainda adolescente para estudar. O seu salário foi motivo de polémica já este ano: 36.5 milhões de euros. Sai de costas voltadas para a administração.
Carlos Tavares, CEO da gigante de automóveis Stellantis, apresentou a demissão do cargo este domingo com "efeitos imediatos".
A notícia da saída, avançada pela Bloomberg, referiu que o português tinha divergências com a empresa que o faziam querer abandonar o cargo. A Stellantis, que inclui marcas como Fiat, Chrysler e Jeep, publicou um comunicado no seu site no final do dia de domingo onde referiu existiam divergências com acionistas de referência, administração e CEO. Agora o processo de procura de um novo CEO "está em andamento" e estará "concluído no primeiro semestre de 2025". Até lá a fabricante será liderada pelo chairman John Elkann.
A empresa está a apresentar resultados fracos, sobretudo na América do Norte, onde anunciou uma queda de 47% nas vendas do terceiro trimestre do ano. Esta segunda-feira, depois do anúncio da demissão, as ações estavam em queda. Na bolsa de Milão, perdiam 7,28% e na de Paris, mais de 6%.
Carlos Tavares tinha a saída do cargo já anunciada para o início de 2026, quando terminava o atual mandato. O português nasceu em Lisboa a 14 de agosto de 1958, filho de uma professora de francês e um contabilista numa seguradora francesa, o que lhe deu as ferramentas para estudar no Liceu Charles-Lepierre e, com apenas 17 anos, se ter mudado para Toulouse para frequentar o Liceu Pierre-de-Fermant.
Em 1981 licenciou-se em engenharia na École Centrale Paris. Antes de chegar à Stellantis foi diretor de operações da Renault, diretor do conselho administrativo e diretor executivo do PSA, que em 2021 se fundiu com a Fia Chrysler Automobiles para formar a Stellantis.
Dentro do grupo Renault, Carlos Tavares ocupou diferentes cargos. Entrou na empresa em 1981, com 23 anos, como engenheiro de testes de condução antes de ser diretor do projeto Renault Mégane II. Entre 2004 e 2011 trabalhou para a Nissan, primeiro como diretor de programas e depois como vice-presidente de estratégia e planeamento de produto e em 2005 juntou-se ao conselho de administração.
Em 2011 voltou para a Renault para se tornar diretor de operações e, em 2013, tornou público que tinha como objetivo tornar-se CEO de uma fábrica de automóveis, um gesto visto como marca da sua ambição já que o então CEO da Renault, Carlos Ghosn, era apenas quatro anos mais velho e não pretendia afastar-se. Em agosto do mesmo ano acabou por renunciar à Renault e, em 2014, tornou-se CEO e presidente do conselho de administração do grupo PSA onde conseguiu aumentar a participação da empresa no mercado chinês e esteve envolvido na aquisição da Opel.
Carlos Tavares tornou-se conhecido em França quando viu o seu nome aliado a uma polémica relacionado com o seu salário. Com um vencimento anual base de dois milhões de euros, que aumenta com os objetivos traçados pela administração, em 2023 recebeu 36,5 milhões de euros, o que representou um aumento de 56% em relação a 2022. Isto não caiu bem junto da opinião pública dado que os preços dos carros também estavam a aumentar.
O português sempre foi apaixonado por carros, desde os 14 anos que começou a ser voluntário como comissário de pista no autódromo do Estoril e piloto amador desde os 22 anos, é também um conhecido colecionador de carros tendo um Peugeot 504 V6 Coupé de 1979, um Alpine A110 de 1976 e um Porsche 912 de 1966.
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