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"O segredo dos restaurantes é quem é que tinha e não tinha relação com o cliente"

20 de novembro de 2020 às 16:15

Os presidentes da APHORT e da PRO.VAR apontam que os clientes habituais têm ajudado os restaurantes. Tudo fica mais difícil para quem vivia do turismo.

A restauração vive atualmente duas realidades distintas, com um "grupo significativo" que se adaptou ao 'take away' e entregas a trabalhar a um ritmo "interessante" para clientes habituais, mas o cenário é difícil para os que subsistiam do turismo.

Quem o diz são os presidentes da Associação Portuguesa de Hotelaria Restauração e Turismo (APHORT), António Condé Pinto, e da PRO.VAR - Promover e Inovar a Restauração Nacional, Daniel Serras, que, em declarações à agência Lusa, explicaram que a crise causada pela pandemia do novo coronavírus está a ter efeitos distintos no setor.

"Os restaurantes que são, digamos, de passagem, isto é, que viviam sobretudo das pessoas que passam por ali e que estão nas cidades, encontram, neste momento, grandes dificuldades, porque os tais que passavam - os turistas - não existem e porque havia uma população de almoço de trabalho que hoje está muito recolhida em teletrabalho e esse é talvez o segmento que neste momento está de facto em mais dificuldades", disse António Condé Pinto.

Segundo o responsável, há depois todo um outro segmento de restaurantes, onde as pessoas se deslocavam habitualmente para as suas refeições que não perderam o contacto com os seus clientes e estão, por isso "a ultrapassar a situação".

"O segredo aqui é exatamente esse: quem é que tinha e não tinha relação com o cliente", defendeu o presidente executivo da APHORT.

"Os [restaurantes] que estão a trabalhar -- e alguns a um ritmo muito interessante -- não têm tido expressão mediática, mas essa realidade existe e já desde maio, desde o primeiro confinamento, quando se percebeu que havia um mercado em crescimento, na altura fundamentalmente o 'take away', e que havia restaurantes que iam agarrar essa oportunidade", afirmou.

Não querendo arriscar números, António Condé Pinto adiantou que estes casos representam "um número significativo" de restaurantes.

"Não estamos a falar de uma minoria, de um núcleo reduzido", disse, sublinhando que é também preciso valorizar os empresários que "tendo oportunidades, as estão a aproveitar".

Também o presidente da PRO.VAR, Daniel Serras, admitiu que "os restaurantes com conceitos fortes e mais tradicionais acabam por ter uma ligeira vantagem face aos restantes, perdendo claramente os restaurantes indiferenciados e os de experiências".

"Os restaurantes de 'shopping' e de zonas turísticas tiveram de novo quebras acima dos 70% do período homólogo [no último trimestre]", avançou.

O dirigente sublinhou, no entanto, que, neste último trimestre do ano, a perda de receitas será mais transversal à maioria dos restaurantes do país, devido às medidas adotadas pelo Governo, como a proibição de circulação entre concelhos e a redução de horários ao comércio e restauração.

Neste sentido, Daniel Serras defendeu que "o Governo deveria assumir integralmente o valor das perdas dos três trimestres, introduzindo tetos máximos em função das perdas e não de forma transversal para todas as microempresas e pequenas empresas".

Em relação ao último trimestre, a PRO.VAR defendeu "um adiantamento por conta, a fundo perdido, tendo em conta a mesma forma de cálculo utilizando as perdas em relação ao período homólogo, podendo corrigir no trimestre seguinte, quer por excesso ou por defeito os valores entretanto entregues".

A associação considerou, ainda, a forma de cálculo encontrada para compensar os fins de semana em que os estabelecimentos têm de encerrar às 13:00 "muito injusta", por se basear numa média que é calculada num período de 44 semanas "em que a maioria são de faturações residuais e uma parte em período de estado emergência, onde as faturações foram inexistentes para a maioria dos restaurantes".

Daniel Serras teceu também críticas ao programa Apoiar.pt, que atribui o mesmo valor de apoio a todas as empresas com perdas superiores a 25%, defendendo a criação de escalões de apoio, mediante a percentagem das quebras.

"Temos um país a duas velocidades: existem zonas que se encontram há oito meses com perdas médias entre os 70% e os 90%, enquanto que outras sofreram substancialmente menos", apontou, sublinhando que "estes desequilíbrios têm que se corrigidos num novo apoio, para conceder mais apoios àqueles que perderam mais".

Para combater o aumento de casos de covid-19, o Governo decidiu, entre outras medidas, decretar o encerramento do comércio e da restauração às 13:00 no último e no próximo fim de semana, ao abrigo do estado de emergência.

Os restaurantes só podem funcionar a partir das 13:00 para entrega ao domicílio, e não para 'take away'.

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