"Greedflation": Empresas agravaram custo de vida para terem mais lucros
Um relatório aponta que várias empresas britânicas aproveitaram-se da inflação para aumentarem os seus lucros e pede que "lucros extraordinários" sejam mais taxados.
O que causou a crise inflacionista que assola o mundo? Vários elementos terão contribuído, desde as políticas monetárias, a pandemia, as secas e cheias (ou seja, as alterações climáticas), e a guerra. Mas um relatório britânico diz que há ainda um outro fator que contribuiu para o aumento generalizado dos preços: a inflação "por ganância" (greedflation).
O relatório Inflação, lucros e poder de mercado dosthink thankbritânicos Institute for Public Policy Research (IPPR) e da Common Wealth referem que a especulação financeira desempenhou um papel no aumento dos preços em 2022. Os think tankapelam a uma maior tributação às empresas que obtiveram "lucros excessivos", acusando as grandes empresas de aproveitarem a boleia da inflação para aumentarem os preços dos seus produtos além do aumento dos custos de produção, aumentando assim os seus lucros.
A IPPR e a Common Wealth lembram que o aumento do preço dos produtos impactou negativamente o poder de compra da população de forma generalizada.
No relatório refere-se que as multinacionais cotadas em bolsa do Reino Unido viram os seus lucros aumentar 30% e que 11% dessas empresas obtiveram aquilo que são considerados "superlucros" ou "lucros excessivos". Os think tank apelidam esta situação como greedflation, refere o The Guardian.
"Os lucros das empresas não foram o único motor da inflação, nem as empresas dominantes são culpadas pelo choque energético causado pela invasão da Ucrânia pela Rússia. Mas o seu poder de mercado exacerbou as consequências", argumentam os investigadores do estudo, reconhecendo que houve vários factores externos que contribuíram para o aumento dos preços em 2022. A análise das contas financeiras de grandes empresas britânicas revelou que os lucros ultrapassaram em larga escala o aumento dos custos das mesmas. São dados os exemplos das empresas de energia ExxonMobil e Shell, as empresas mineiras Glencore e Rio Tinto e as empresas de produtos alimentares e de matérias-primas Kraft-Heinz, Archer-Daniels-Midland e Bunge que viram os seus lucros ultrapassar a inflação.
Também as empresas do setor tecnológico, das telecomunicações e do setor bancário viram as suas margens de lucro aumentarem depois de promoverem aumentos de preços significativos. "Conseguiram proteger as suas margens de lucro ou mesmo aumentá-las, gerando lucros excessivos através de uma combinação de elevado poder de mercado e dinâmica do mercado global", revela o relatório.
Segundo esta nova investigação, que analisou mais de 1.300 empresas cotadas na bolsa de valores do Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, Brasil e África do Sul, traçando trajetórias de lucro antes e depois da pandemia, os lucros das empresas cresceram mais rapidamente do que a inflação numa série de países.
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