Fundador do Telegram detido em França
Pavel Durov foi detido porque os procuradores franceses acreditam que a falta de moderação na app terá facilitado atividades ilegais como tráfico de drogas e partilha de conteúdo pedófilo.
O fundador e presidente-executivo do Telegram, Pavel Durov, foi detido na noite de sábado, dia 24 de agosto, depois de aterrar no aeroporto de Bourget, nos arredores de Paris, por volta das 20h locais (19h de Lisboa), informou a rádio TF1. O cidadão de nacionalidade franco-russa havia partido do Azerbaijão, juntamente com uma mulher e um guarda-costas, e estava a bordo do seu jato privado quando foi alvo de um mandado de captura em França, no âmbito de uma investigação criminal.
De acordo com as autoridades locais, a detenção do milionário, de 39 anos, está relacionada com possíveis crimes relacionados com a aplicação de mensagens. Os procuradores franceses acreditam que a falta de moderação no Telegram terá facilitado atividades ilegais, incluindo lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e partilha de conteúdo pedófilo.
Contudo, o advogado do milionário, Dmitry Agranovsky, considerou a acusação "absolutamente ridícula" e um ataque à liberdade de expressão, adianta a BBC. Em declarações à agência de notícias russa RIA Novosti, Dmitry Agranovsky afirmou que as acusações eram semelhantes a culpar um fabricante de automóveis por um acidente de carro ou por as viaturas serem utilizadas em crimes.
Pavel Durov evitava viajar para vários países onde o Telegram está sob vigilância, nomeadamente para França, e tinha conhecimento que um mandado recaía sobre si. Costuma frequentar os Emirados Árabes Unidos, países da antiga União Soviética e a América do Sul.
A situação levou, assim, as autoridades russas a condenar a prisão do multimilionário, ao dizer que demonstra que o Ocidente tem dois pesos e duas medidas quando se trata de liberdade de expressão e democracia. Foi o caso da Embaixada da Rússia em França, que este domingo escreveu no Facebook que procurava "esclarecer as razões da detenção e garantir a proteção dos direitos do Sr. Durov e facilitar o acesso consular". A publicação acrescentava ainda que as autoridades francesas não haviam cooperado com as autoridades russas.
Já a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, perguntou no Telegram se as ONG ocidentais de direitos humanos permaneceriam em silêncio sobre a prisão do multimilionário, depois de terem criticado a decisão russa de "criar obstáculos" ao trabalho do Telegram em 2018.
O proprietário do X, Elon Musk, que já enfrentou várias críticas sobre a moderação do conteúdo da sua rede social, publicou também repetidamente acerca da situação. Numa publicação com #freepavel, escreveu: "Ponto de vista: é 2030 na Europa e estás a ser executado por gostar de um meme."
Pavel Durov, que fundou o Telegram em 2013, abandonou a Rússia em 2014 depois de se ter recusado a cumprir as exigências do governo para encerrar as comunidades de oposição na sua rede social VKontakte - que vendeu. Mais tarde, em 2018, a Rússia baniu o Telegram, por ter sido negada a entrega de dados referentes aos utilizadores.
Hoje em dia, a aplicação é extremamente influente na Rússia, Ucrânia e nos países da antiga União Soviética, além de ser classificada como uma das principais plataformas de redes sociais, depois do Facebook, Youtube, Whatsapp, Instagram e TikTok. É muito usada por ativistas, jornalistas e dissidentes em países autoritários. No entanto, o Telegram tem atraído diversas críticas de governos e organismos de segurança, que argumentam que a plataforma pode ser explorada por criminosos.
O Telegram permite que os grupos possam ter até 200 mil membros – o que os críticos argumentam que facilita a propagação de desinformação e que os utilizadores partilhem conteúdo conspiracionista, neonazi, pedófilo ou relacionado com terrorismo. No Reino Unido, a aplicação foi investigada por hospedar canais de extrema-direita, fundamentais para os protestos que se desenrolaram nas cidades inglesas no início do mês de agosto após a morte de três crianças num ataque com faca.
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