"É um dia especial", garante à SÁBADO Francisco Álvares, investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto. "Ter uma espécie tão icónica em território nacional é de celebrar."
Ontem foi confirmada a presença de um urso-pardo na Serra do Gerês e isso significa que Portugal ainda tem condições para receber estes animais selvagens, apesar destas resultarem do abandono do interior que permite, por sua vez, a recuperação da floresta autóctone.
Mas o feito deve-se sobretudo a Espanha, onde existe uma população de cerca de 300 indivíduos. "Isto é consequência dos esforços de conservação do governo espanhol e da Fundación Oso Pardo", explica Francisco Álvares. "Eles têm realizado um esforço na recuperação do habitat do urso-pardo. Têm brigadas especiais que procuram minimizar a mortalidade dos ursos, provocadas sobretudo por armadilhas de laços e veneno usadas pelos caçadores para matar javalis e lobos."
Vêm aí mais ursos-pardos
O animal, que pode atingir o 1,50 de altura e pesar até 600 kg, está apenas de visita. "Não me parece que os ursos-pardos se fixem em Portugal porque não temos habitats de reprodução", garante o investigador, representante português do grupo de intervenção dos grandes carnívoros na Europa da União Internacional para a Conservação da Natureza. É que as fêmeas são muito exigentes com o território onde decidem reproduzir-se. "São muito fiéis aos locais onde outros ursos habitam e preferem zonas mais agrestes e montanhosas que dificultem a presença humana."
Mas isso não significa que este não seja seguido por outros ursos-pardos. "Os machos jovens têm tendência para dispersar por outras áreas, distintas da zona de reprodução. E esta dispersão tem sido cada vez mais ampla."
Segundo o investigador, o animal veio à procurar de outras fêmeas e deverá regressar ao local de origem. Pelo caminho deixa pistas odoríferas e marcas que irão servir de pontos de referência a outros animais que se aventurem pelo mesmo caminho. "É muito provável que, nos próximos cinco anos, outros ursos-pardos visitem o País pontualmente."
A sua chegada incólume a Portugal é, de si só, um feito. "Existe uma autoestrada e um conjunto de vias rodoviárias entre Zamora e o parque Natural de Montesinho que se pensou iria atrasar a expansão dos ursos. Mas este indivíduo conseguiu ultrapassar isso tudo, provavelmente passou por viadutos e passagens hidráulicas [construídas para cursos de água]."
Risco de ataque de ursos-pardos é mínimo
Agora é a vez das autoridades nacionais agirem. "Esta presença obriga o governo português a gerir o habitat, a minimizar conflitos e prejuízos que possam surgir e a informar e sensibilizar a população ", explica Francisco Álvares.
Primeiro ponto: o ataque a humanos de um urso dispersante é mínimo. "Os ataques são mais comuns com fêmeas quando caminhantes se coloquem entre elas e as crias", assegura o investigador.
Em perigo poderão estar as abelhas. "Os ursos adoram mel e um animal assustado e com fome pode atacar os colmeais." Mas há formas de o evitar com cercas elétricas e formação dos apicultores.
Convívio com ursos em tempos medievais
A proteção das colmeias não é uma arte nova em Portugal. Na Idade Média construíram-se silhas, muros de pedra com dois metros de altura e um metro de espessura, que rodeavam as colmeias. "Eram autênticas fortalezas e são um bom exemplo de como as comunidades de então lidavam com o urso", salienta Francisco Álvares.
Há algumas silhas bem conservadas no Parque Nacional da Peneda-Gerês que, segundo o investigador, devem ter estado ao uso até ao século XIX. Afinal, o último registo da morte de um urso-pardo em Portugal remonta ao ano de 1843.
Potencial turístico do urso
O grande carnívoro, que também está presente na Grécia e começa a aparecer na Áustria e Suíça, poderá contribuir para o desenvolvimento turístico do interior. "Em Espanha as populações têm valorizado o urso, ao contrário do que acontece com o lobo. Há produção de queijo com a pegada do urso e a gastronomia e hotelaria têm beneficiado da sua presença." Portugal poderá começar com a recuperação das silhas, a maior parte delas em ruínas.
Para poder adicionar esta notícia deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da SÁBADO, efectue o seu registo gratuito.
Anónimo03.06.2019
Magda Gama10.05.2019
OMS alerta para “fracasso moral catastrófico” na distribuição das vacinas
Covid-19: Profissionais de saúde começam hoje a receber segunda dose da vacina
"É absolutamente insustentável o que se está a passar" nos cuidados de saúde
Marketing Automation certified by E-GOI
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados. É expressamente proibida a reprodução na totalidade ou em parte, em qualquer tipo de suporte, sem prévia permissão por escrito da Cofina Media S.A.
Consulte a Política de Privacidade Cofina.