"O que se verifica em algumas escolas é alarmante e esta é uma questão prioritária. O perigo para as crianças é imenso. Estamos a falar na saúde futura das nossas crianças", alertou, em declarações à agência Lusa.
A posição da bastonária surge após denúncias de associações de pais sobre má qualidade e pouca quantidade de alimentos fornecidos pelas cantinas. Bento confirmou que não está surpreendida com as notícias, afirmando que vieram confirmar vários estudos nacionais que revelam que "a qualidade das refeições apresenta problemas graves" em algumas escolas.
Existem referenciais para o que é disponibilizado nas cantinas e bares "que podem ser melhorados, mas a grande preocupação é o cumprimento dessas regras e a falta de fiscalização", sublinhou a bastonária em declarações à Lusa.
Contactado pela Lusa, o gabinete do Ministério da Educação explicou que cabe às direcções escolares "a responsabilidade diária pelo refeitório e todo o seu acompanhamento, garantindo o seu bom funcionamento". As direcções escolares devem "acompanhar o serviço prestado e proceder à avaliação das refeições", acrescentou o ME.
Este ano, os serviços do ministério já receberam várias reclamações: "Na maioria evidenciava-se o baixo nível da qualidade dos produtos utilizados pelas empresas adjudicatárias".
A Lusa contactou o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, que admitiu que possam existir falhas em algumas escolas, principalmente onde o serviço é feito por empresas privadas.
"As refeições deveriam ser confeccionadas nas escolas, que têm cantinas e cozinhas para o fazer. Quando isso acontece não há queixas, mas actualmente muitas escolas têm entregado a confecção a privados. As refeições são técnica e cientificamente corretas mas não são apelativas para os alunos", defendeu Manuel Pereira.
Actualmente existem 1.148 refeitórios em funcionamento nas escolas de 2.º, 3.º ciclos e secundário: 548 de gestão directa, 776 de gestão adjudicada e 24 de gestão autárquica, segundo dados do ME.
Na escola de Manuel Pereira as refeições são feitas na cantina por funcionários e o presidente garante que ficam abaixo do valor mínimo definido pela tutela: "As refeições têm de ficar entre os 1,42 euros e os 1,70 euros. Nós conseguimos fazê-las 20 cêntimos abaixo e oferecemos às crianças peixe fresco, não congelado", garantiu à Lusa.
A Bastonária da Ordem dos Nutricionistas duvida que as empresas privadas consigam oferecer refeições com qualidade quando o valor ronda os 1,50 euros por aluno: "Com estes valores é possível conseguir o equilíbrio nutricional mas é preciso muita mestria, sendo que no caso das empresas me parece impossível, porque além dos géneros alimentares ainda têm de pagar funcionários e equipamentos", alertou.
Para Alexandra Bento estes problemas poderiam ser minimizados com a criação de uma equipa de nutricionistas que ficariam responsáveis por supervisionar os referenciais estabelecidos para as cantinas e bares, pela garantia de que as empresas estavam a cumprir com o que se tinham comprometido nos contratos e com campanhas de promoção de saúde nas escolas.
"Às vezes não é preciso muito dinheiro. Com pequenas acções podemos ter resultados fenomenais, desde que haja conhecimento técnico e vontade", concluiu a bastonária.