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Separação materna nas primeiras semanas aumenta probabilidade do uso de drogas

11 de agosto de 2020 às 14:49

Para espanto dos investigadores, não é a depressão dos progenitores que aumenta a vulnerabilidade ao uso de drogas de um filho na adolescência.

A separação materna nas primeiras semanas de vida aumenta a probabilidade do uso de drogas psicoativas na adolescência, revela um estudo do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto avançado hoje à Lusa.

Em entrevista à agência Lusa, Ana Magalhães, investigadora no grupo Addiction Biology e coordenadora do estudo "Stress em idade precoce afeta vulnerabilidade às drogas na adolescência", explicou que, para espanto dos investigadores, não é a depressão dos progenitores que aumenta a vulnerabilidade ao uso de drogas de um filho na adolescência, mas sim a separação precoce entre mãe e bebé.

"Para nosso espanto, fomos verificar que a depressão não teve o efeito que estávamos à espera, que era aumentar a vulnerabilidade [para o uso de drogas], mas sim o stress [em idade] precoce que teve efeitos tanto em indivíduos depressivos, como nos indivíduos não depressivos. O estudo acaba por ser engraçado, porque os resultados não eram aquilo que estávamos à espera, mas sim o stress precoce é que teve efeitos, aumentando a vulnerabilidade às drogas na adolescência", descreve a especialista.

O estudo foi realizado por uma equipa de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, que avaliou o impacto da separação materna nas duas primeiras semanas de vida de ratos.

"O nosso objetivo mais geral era saber o que é que torna os indivíduos mais vulneráveis ao uso de drogas na adolescência e então fomos ver coisas para trás. Como a depressão está muito relacionada com problemas de tomadas de drogas, fomos tentar ver a depressão genética (pais depressivos), se afetava a vulnerabilidade à drogas, e aumentámos mais um risco", que foi o stress precoce causado pela separação maternal, contou a investigadora Ana Magalhães.

Para desenvolver o estudo utilizaram-se duas estirpes de ratos com diferentes vulnerabilidades para a depressão e que foram separados das suas mães durante as duas primeiras semanas de vida. Depois, compararam-se os efeitos da separação precoce em ratos adolescentes cujas mães tinham maior predisposição para a ansiedade e depressão, com ratos adolescentes filhos de mães sem esse histórico de depressão.

Quando os animais em estudo atingiram a adolescência, a equipa de investigadores fez a avaliação do seu estado emocional e do efeito de recompensa de drogas psicoativas.

"Os resultados mostraram que o stress durante o início de vida alterou o estado emocional dos adolescentes, tornando os animais depressivos mais ansiosos e os não depressivos mais exploratórios, tendo revelado, para ambas as estirpes (depressiva e não depressiva), um risco aumentado para a dependência" acrescentou Renata Alves, outra das investigadoras do estudo.

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