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O leite de fórmula diz ter capacidades que não tem, indica estudo

Débora Calheiros Lourenço 21 de fevereiro de 2023 às 18:00

As declarações publicitárias mais comummente feitas sem base científica são: "Ajuda/apoia o desenvolvimento do cérebro e/ou olhos e/ou sistema nervoso"; "Fortalece o sistema imunológico"; "Ajuda/apoia o crescimento e desenvolvimento".

Nos últimos anos, a utilização de leite em pó para recém-nascidos e bebés tornou-se cada vez mais comum. No entanto, um estudo agora publicado no British Medical Journal (BMJ)descobriu que a maior parte das alegações nutricionais relativas a este tipo de produtos não são sustentadas em evidências científicas, tratando-se essencialmente de questões demarketing.

REUTERS/David Gray

No estudo, é revelado que "a ampla gama de alegações de benefícios para a saúde e nutrição feita por produtos de fórmula infantil muitas vezes não são apoiadas por referências científicas". Além disso, "quando são, as provas costumam ser fracas e tendenciosas".

As coautoras do estudo, Ka Yan Cheung e Louika Petrou, advertem para a necessidade de que "a indústria forneça informações precisas e confiáveis aos consumidores, em vez de utilizar alegações vagas ou sem fundamento como ferramentas demarketing".

Outra questão que ficou clara através deste estudo é que as restrições demarketingatuais não estão a impedir os fabricantes de promover os seus produtos de uma forma controversa. Assim sendo, é apontado que "as leis atuais não limitam efetivamente o uso de alegações na comercialização de substitutos de leite materno".

Esta investigação foi realizada através da análise a 814 fórmulas em 15 países diferentes, incluindo a Austrália, Canadá, Alemanha, Índia, Itália, Japão, Nigéria, Noruega, Paquistão, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos.

Em todos os países analisados, a maioria dos produtos eram comercializados tendo em conta pelo menos uma alegação de benefícios para a saúde ou nutrição, apesar deste tipo de alegações infundamentadas serem proibidas em alguns dos locais.

As declarações publicitárias mais comummente feitas sem base científica são: "Ajuda/apoia o desenvolvimento do cérebro e/ou olhos e/ou sistema nervoso"; "Fortalece o sistema imunológico"; "Ajuda/apoia o crescimento e desenvolvimento".

Quanto às referências fornecidas para as alegações, 56% tratavam-se de resultados de ensaios clínicos, enquanto os restantes se tratavam de revisões, artigos de opiniões ou outros tipos de investigação, como estudos com animais. Entre as alegações registadas como ensaios clínicos, os investigadores consideraram ainda que 90% continham um alto risco de ser tendencioso e 88% dos autores dos ensaios clínicos receberam financiamento por parte da indústria.

Com o estudo, fica claro que "apesar das tentativas anteriores de mudar o panorama domarketingde fórmulas infantis, o progresso na regulamentação das alegações das mesmas fórmulas é lento". Ainda existe "uma falta de transparência sobre as alegações de saúde e nutrição relacionadas às fórmulas infantis".

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