Secções
Entrar

Homicidas são perfeccionistas e inflexíveis, revela estudo

26 de março de 2018 às 16:27

Segundo psicólogos da Universidade de Aveiro, o grupo estudado "mostrou dificuldade em identificar emoções e stress pós-traumático."

Um estudo de um grupo de psicólogos da Universidade de Aveiro a 30 homicidas revela tendência para o perfeccionismo, controlo e inflexibilidade, dificuldade em identificar emoções, e ainda sintomas de stress pós-traumático, revelou hoje fonte académica.

1 de 5
Foto: Getty Images
Foto: Getty Images
Foto: Getty Images

O estudo, realizado pela primeira vez em cadeias portuguesas, com autorização da Direcção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, procurou avaliar os sintomas psicopatológicos, a personalidade e o processamento emocional de reclusos condenados por homicídio.

O grupo estudado "mostrou tendência para o perfeccionismo, controlo e inflexibilidade, com dificuldade em identificar algumas emoções, apresentando ainda sintomas de stress pós-traumático", refere o relatório.

Entre os 30 reclusos, figuram homens que foram condenados por homicídio voluntário, na forma simples, qualificada e privilegiada, tanto por motivos passionais e familiares, como decorrentes de negócios ilícitos, de assaltos, de altercações ou de vingança.

A todos foi realizada uma bateria de testes e entrevistas de avaliação de psicopatologia, da personalidade, de psicopatia e da forma como identificam e processam as emoções.

O mesmo procedimento foi efectuado com um grupo de três dezenas de homens sem história criminal, recrutados aleatoriamente para comparação.

Os reclusos distinguiram-se dos indivíduos do grupo de controlo por pontuações mais elevadas na escala da Compulsividade e nas respectivas características associadas.

Foi ainda identificada entre os reclusos a presença de sintomas de stress pós-traumático o que reporta a existência de sintomas relacionados com algum tipo de trauma psicológico.

Quanto à caracterização da personalidade, "salienta-se o resultado na faceta da impulsividade, que é considerada na literatura científica como um factor de risco do comportamento criminal".

Outro aspecto diferenciador entre os grupos estudados foi a presença de psicopatia nos reclusos condenados por homicídio em comparação com o grupo de controlo, que não apresentou indícios.

Já no processamento emocional, foram encontradas diferenças em ambos os grupos, pelo que "o grupo de reclusos apresentou um padrão de desempenho ao nível da identificação e reconhecimento das emoções diferente do encontrado no grupo de controlo", por exemplo, no que diz respeito às emoções de medo, alegria, tristeza, surpresa.

A psicóloga Dulce Pires, que realizou o estudo no âmbito do seu doutoramento, orientado por Isabel Santos, Carlos Fernandes da Silva e Ana Allen Gomes, salienta que a investigação da UA pretende ser um indicador dos aspectos a trabalhar com indivíduos condenados por homicídio, quer ao nível do tratamento de psicopatologia quer ao nível da identificação e gestão de emoções.

A investigadora reforça desta forma "a importância da avaliação psicológica e tratamento em contexto prisional, e após o cumprimento da pena, já em sociedade".

"Estes indivíduos necessitam de apoio continuado a nível psicológico e social", alerta a psicóloga.

Para além das áreas do tratamento e reabilitação, o estudo pretende ajudar igualmente os profissionais da investigação criminal e da prevenção, pela informação que pode dar no entendimento do crime e do ofensor.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela