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Covid-19: Ter mais de 65 anos é uma variável mas não implica uma condenação

26 de março de 2020 às 11:23

Especialistas em cuidados a idosos reconhecem alguma vulnerabilidade relacionada com a idade determinada por algumas condições de saúde.

Especialistas em cuidados a idosos dizem que ter mais de 65 anos é "apenas uma variável" e não implica uma condenação pela covid-19, mas reconhecem alguma vulnerabilidade relacionada com a idade determinada por algumas condições de saúde.

"É verdade que os idosos são fisicamente mais vulneráveis, mas eu gostaria de lembrar que, mesmo sendo vulneráveis, a maioria deles está bem e a maioria dos afetados supera a infeção por coronavírus", disse à agência de notícias espanhola Efe Javier Yanguas, psicólogo e diretor científico do Programa Sénior da Fundação La Caixa.

Este especialista defende que colocar a idade do paciente nas manchetes dos jornais que resumem o número de infetados ou falecidos todos os dias, sem contexto, não é uma boa prática.

"Os idosos aparecem como supostos culpados, entre aspas. Parece que, enquanto são eles, não é a nossa vez. Até acho que as pessoas estão um pouco aliviadas. Hoje de manhã, no supermercado, ouvi uma pessoa a dizer a outra que o coronavírus afeta apenas pessoas mais velhas ", disse.

O psicólogo explica que "não se trata de disfarçar a realidade, mas de não contribuir para vitimizar com discursos tremendos que deixam de lado o facto de que muitos idosos estão bem e que mesmo em determinadas idades é possível superar".

Para Yanguas, o fato de haver muitos mortos entre idosos não deve levar a afirmar que a população acima de 65 anos é vulnerável em todas as áreas da vida.

"Acredito que uma coisa é a fragilidade de um grupo de risco no nível físico e outra é que é para todos os aspetos vitais. Certamente existem pessoas mais velhas com mais poder e capacidade de lidar com essa situação do que muitos jovens", afirmou.

O psicólogo destaca também que viver na solidão e sair pouco ou nada à rua é uma circunstância habitual para muitos idosos.

"Eu pergunto-me se eles realmente estão a perceber mais a sua solidão. Não sei. O que penso é que agora somos mais capazes de experimentar o isolamento e a solidão que muitos deles sofrem em suas vidas diárias", sublinhou.

Javier Yanguas aconselha à tentativa de redução do "isolamento afetivo" durante o estado de emergência, tanto na família como na vizinhança.

As redes de apoio geradas espontaneamente entre os vizinhos - que permitem, por exemplo, aproximar as compras das pessoas com menos mobilidade - estão a ser essenciais para garantir o bem-estar das pessoas mais vulneráveis.

O especialista também aconselha as famílias a diminuir a distância emocional.

"Não a distância objetiva de um metro, à qual somos obrigados, mas chamadas mais frequentes, envio de e-mails, ligação entre netos e avós através de dispositivos eletrónicos. Tudo contribui para quebrar o confinamento sem violar as regras do estado de emergência", disse.

Promover redes de apoio comunitário, sensibilizar os cidadãos para as necessidades dos idosos e aprender a ficar sozinho são os três princípios que a Fundação La Caixa aplica nos seus programas de voluntariado com idosos e que, segundo o psicólogo, são aplicáveis à atual realidade.

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