O telefone tocava sem parar. Uma e outra vez, o som estridente a ecoar pela casa inteira. Maria dos Prazeres Beleza correu a atender: "Está lá?" Do outro lado da linha: "É possível falar com a Dr.ª Pizarro Beleza?" A resposta pronta: "Cá em casa somos quatro. Com qual deseja falar?" A voz, admirada: "Bem, com uma que é professora na Faculdade de Direito." E Maria dos Prazeres: "Ai isso somos só três. Quer a Leonor, a Teresa ou a Prazeres?" Confusões habituais, numa família onde ter diploma é regra há gerações, e que a agora juíza-conselheira do Supremo Tribunal, Bebé para os amigos, recorda com um sorriso. O cheiro a café sente-se no seu gabinete no Terreiro do Paço. Onde ela está, há sempre uma máquina à mão: "Nos anos 70, encontrámo-nos as três a dar aulas. Trocavam-me tanto com a Tareca [assim é conhecida Teresa], que costumo dizer que sou a Beleza que não existe." O sorriso desaparece quando fala de outros temas, como os processos judiciais que atiraram o apelido da família para as manchetes dos jornais – caso dos hemofílicos, burla ao Estado, tráfico de droga. Pesadelos que, em criança, nem nas noites mais escuras poderia imaginar.

As aventuras do clã Beleza

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