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Movimento Bloom, para tirar crianças do sofá e levá-las a subir árvores

Lusa 16 de novembro de 2025 às 10:06

A associação Movimento Bloom desenvolve um projeto chamado Escola da Floresta, que ajuda crianças a descobrir a natureza.

Promover a educação ambiental das crianças e despertar-lhes a ligação à natureza é o objetivo do Movimento Bloom, há vários anos a mostrar a floresta a alunos de Sintra e que quer alargar a experiência à Amadora.
Movimento Bloom promove educação ambiental e contacto com a natureza em Sintra e Amadora Dirk Pagels/SULUPRESS.DE/picture-alliance/dpa/AP Images
A associação Movimento Bloom desenvolve nomeadamente um projeto chamado Escola da Floresta, que ajuda crianças a descobrir a natureza, e que pretende agora duplicar o número de crianças envolvidas em projetos na floresta. Magda Ferro, uma das criadoras da iniciativa e coordenadora do programa Escola da Floresta Bloom, numa espécie de balanço feito à agência Lusa, diz que mais do que nunca se justifica tirar as crianças das salas e levá-las a descobrir a natureza. A área de brincar que uma criança tem hoje, em relação a 1970 é um nono, diz, acrescentando: "Tornámos as cidades muito pouco amigas das crianças. Fomos fechando as crianças em casa e nos últimos 10 anos restringimo-las ao sofá, com qualquer aparelho tecnológico". A associação cita estudos internacionais que indicam que o amento de tempo de ecrã está diretamente associado a maiores níveis de ansiedade, depressão e défices de atenção, enquanto o tempo passado na natureza melhora o bem-estar e a capacidade de concentração. E também citando dados oficiais, de 2022 (Childhood Obesity Surveillance Initiative: COSI Portugal -- Relatório), diz que cerca de 20% das crianças e adolescentes têm pelo menos uma perturbação mental diagnosticável e 31% dos jovens apresentam sintomas depressivos, a maioria moderados ou graves, e 31,9% das crianças dos 6 aos 8 anos apresentam excesso de peso (pré-obesidade e obesidade). E a verdade é que, segundo estudos mas também o que o Bloom tem constatado no terreno, o contacto regular com a natureza melhora o desempenho escolar, a saúde mental e física e a cooperação e empatia entre as crianças. Magda Ferro fala que há ainda no ADN de cada pessoa uma ligação à natureza, diz que o objetivo das sessões de duas horas é despertar essa ligação. "Acreditamos que essa ligação ainda lá está. Nós somos no fundo um gatilho". Por isso diz que foram gratificantes os últimos 15 anos e que o projeto cada vez mais se justifica, porque falta nos jovens esse contacto, porque o "boom" das tecnologias os afastou ainda mais da natureza. E se nos últimos sete anos, com o apoio nomeadamente da autarquia, milhares de crianças de Sintra puderam descobrir e brincar na natureza, no Parque Natural Sintra-Cascais, a associação está agora a pensar ir mais longe. "Agora o foco é a Amadora. E por isso estamos a pedir apoio à comunidade", afirma a responsável. O ideal seria, acredita, chegar a todo o país. "Não podemos falar de adultos motivados ambientalmente se em crianças não houver esse foco. Se todos os dias alimentarmos essa relação de contacto com a natureza acreditamos que estamos a criar as fundações para adultos que vão defender o ambiente". E é fácil, nas palavras de Magda Ferro. Às vezes coisas tão simples como estar atentos aos sons da natureza. E não apenas as crianças, também os adultos devem fazer essa ligação. Segundo o Movimento, quando uma criança deixa de subir a uma árvore "perde mais do que brincadeira: perde a confiança, o equilíbrio e a curiosidade. E uma sociedade que perde isso, perde o seu futuro". Magda Ferro volta aos números e estudos para dizer que 86% dos jovens portugueses dizem sentir-se "viciados nas redes sociais" (estudo divulgado pela Lusa em 2023). E Mónica Franco, presidente da Associação Movimento Bloom, lembra num comunicado outros dados. "Hoje, as crianças passam em média mais de 6:00 por dia em frente a ecrãs e menos de 1:00 ao ar livre. Há 15 anos, o desafio era tirá-las do sofá. Agora, é resgatá-las das redes, digitais e emocionais, que as afastam do corpo, da imaginação e do mundo natural". São dados desmotivadores, admite Magda Ferro, considerando que se não for uma organização a promover o contacto com a natureza dificilmente esse contacto será iniciativa dos jovens. Tem sido esse o papel do Bloom. O projeto Escola da Floresta já desenvolveu atividades lúdicas com seis mil crianças do concelho de Sintra. Mas também desenvolveu outros projetos, como programas educativos, oficinas e experiencias sensoriais que envolveram mais de 600 mil crianças, bem como pais, professores e educadores de todo o país. No início do mês o Bloom assinalou por exemplo o Dia de Aulas ao Ar Livre, uma campanha que dinamiza desde 2018 em Portugal e que convida as escolas a levar as turmas para aulas ao ar livre. "Procuramos ir ao encontro do universo criança, que inclui a família e os profissionais de educação", explica Magda Ferro, adiantando que o trabalho da associação se foca essencialmente em crianças do pré-escolar e primeiro ciclo do ensino básico. O Bloom é parceiro em Portugal da fundação norte-americana "Sharing Nature Worldwide", fundada em 1979 e que pretende aprofundar a ligação das pessoas com a natureza através de experiências práticas.
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