O "reality show" de Sócrates acabou. Agora a realidade vai deixar de copiar a ficção.
O tempo esgotou-se e Passos Coelho não vai ter muito tempo. Nem para formar Governo, nem para cumprir tudo o que o FMI e a UE impuseram como a cura de emagrecimento de Portugal. Mas dele espera-se sobretudo que substitua o ar condicionado da era de Sócrates pelo ar puro do diálogo e do debate de ideias. E que inverta a colonização do aparelho de Estado pelo partido que ganha as eleições. Para isso, nos restos de poder que lhe são cedidos pela troika, vai ter de exercer o que tem. Pedro Passos Coelho terá de ser o príncipe, ou então acabará como pasto para os urubus que buscam sempre a carne do Estado. A formação do Governo mostrará se vai impor as suas ideias ou se ficará refém da sofreguidão dos interesses que se movem na sombra. E que, nalguns casos, já mudaram de camisola. No meio do banho de ácido sulfúrico que será governar no mar do memorando com o FMI e a UE, Passos Coelho tem uma missão terrível: dialogar com o PS. Muitas das medidas que o Governo terá de tomar ferem, com dor, a Constituição. Alguns artigos terão de mudar. Os britânicos, defronte de um debate, falam de acordo, de desacordo ou de acordo com desacordo. Mas abrem vias de diálogo. E elas terão de existir. Com o PS e com a sociedade civil. Passos Coelho tem nas mãos a balança do novo poder. Vai ser uma longa marcha, cheia de perigos e de ambições deslumbradas por quem acha que chegou a sua altura de ter acesso às benesses. Não é uma tarefa fácil. Mas da sua concretização dependerá o sucesso do novo primeiro-ministro.
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"O afundamento deles não começou no Canal; começou quando deixaram as suas casas. Talvez até tenha começado no dia em que se lhes meteu na cabeça a ideia de que tudo seria melhor noutro lugar, quando começaram a querer supermercados e abonos de família".