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Videntes julgados por burla com "puxadas de dinheiro" e negociações com espíritos

Lusa 27 de junho de 2024 às 17:12

Com as alcunhas Madi e Nadi, os arguidos estão a ser julgados pela prática de dois crimes de burla qualificada.

Espíritos que multiplicam dinheiro, "puxadas de dinheiro" e negociações para acalmar espíritos zangados são alguns dos "ingredientes" de um caso de burla milionária que está a ser julgado no Tribunal de Braga, com dois videntes no banco dos réus.

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No total, e segundo a acusação do Ministério Público, a que a Lusa hoje teve acesso, os dois videntes conseguiram 339.500 euros, tudo para alegadamente ajudarem uma mulher de Barcelos a receber um suposto prémio do Euromilhões, que teria ganhado em França, em 2012.

Com as alcunhas Madi e Nadi, os arguidos estão a ser julgados pela prática de dois crimes de burla qualificada.

A história começou em 2017 ou 2018, quando Maria, uma pessoa "frágil e vulnerável a nível psicológico" e "profundamente religiosa e ingénua", conheceu os arguidos e passou a recorrer aos seus serviços de astrologia.

Nessas circunstâncias, Maria comunicou aos arguidos que em 2012 tinha jogado no Euromilhões em França, juntamente com outras pessoas, e que acreditava ter ganhado um prémio no valor de 30 milhões de euros, sem que alguma vez tivesse reclamado a sua parte do mesmo.

Os arguidos logo se prontificaram a ajudá-la, dizendo que, com a "invocação de espíritos", conseguiriam não só que ela recebesse o prémio, mas também multiplicar dinheiro.

Para isso, teriam de fazer "puxadas de dinheiro", uma "empreitada" só possível se Maria fosse ajudando com a disponibilização de sucessivas quantias.

Maria levantou das suas contas bancárias 102.500 euros e entregou-os aos videntes, mas estes disseram que era preciso mais e aconselharam-na a pedir dinheiro a pessoas das suas relações.

Conselho acatado, Maria foi então pedindo as verbas solicitadas, até que um amigo cometeu o "pecado capital" de lhe entregar 20 mil euros em fotocópias de notas de 500, que seriam entregues aos arguidos.

Nessa altura, o amigo de Maria foi notificado de que os "espíritos ficaram furiosos" e que sobre ele e sua família impendia uma "maldição" que só poderia ser limpa com a entrega de 20 mil euros verdadeiros.

O homem acabou por entregar os 20 mil euros, mas recebeu uma má notícia dos arguidos: os espíritos não tinham acalmado e só com mais 50 mil euros é que o conseguiriam "safar".

Mais tarde, os arguidos contactaram-no e disseram que tinham conseguido negociar com os espíritos, dando conta de que com 30 mil euros a "coisa" ficaria resolvida.

O homem entregou os 30 mil, mas nem mesmo assim teve descanso, já que posteriormente um dos arguidos lhe ligou a dizer que eram precisos mais 50 mil euros.

O homem acabou por denunciar o caso às autoridades policiais, que detiveram os arguidos.

Para o Ministério Público (MP), os arguidos agiram sempre "livre, deliberada e conscientemente, em comunhão de esforços e em execução de plano que previamente delinearam", para fazerem suas as quantias que lhes eram entregues pelas vítimas, cujas "características de personalidade" conheciam.

O MP quer que os arguidos sejam condenados a pagar ao Estado 339.500 euros, o valor que conseguiram com a atividade criminosa que desenvolveram.

Os arguidos estão em prisão preventiva.

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