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Pequim pressiona familiares de dissidentes após carta a apelar à demissão do Presidente

28 de março de 2016 às 15:13

Dissidentes chineses a viver no estrangeiro revelaram que as autoridades na China detiveram os seus familiares em represália à publicação de uma carta a criticar o Presidente Xi Jinping

Dissidentes chineses a viver no estrangeiro revelaram que as autoridades na China detiveram os seus familiares, como parte de uma repressiva campanha lançada após a publicação de uma carta crítica do Presidente chinês, Xi Jinping.

Chang Ping, jornalista radicado na Alemanha, revelou que os seus dois irmãos e a sua irmã mais nova foram detidos, devido à suspeita de que ele terá participado na redacção de uma carta anónima que apela à demissão de Xi.

Após Chang ter referido aquela missiva num artigo e numa entrevista à Radio France Internationale, vários familiares seus "foram sujeitos a investigação, perseguição e ameaças", afirma o próprio, num comunicado difundido pelo portal chinachange.org.


"A polícia pediu à minha família que me contactasse e que exigisse que eu parasse imediatamente de publicar qualquer artigo crítico do Partido Comunista Chinês (PCC)", refere.

Chang, ex-jornalista do jornal chinêsSouthern Weekend, mudou-se para a Alemanha após ser sujeito a crescente pressão pelas autoridades por apelar ao Governo chinês por mais abertura e tolerância.

Um caso semelhante ocorreu na semana passada quando três familiares do jornalista radicado em Nova Iorque Wen Yunchao foram detidos pelas autoridades na província de Guangdong, no sul da China.

Ambos os jornalistas negaram ter qualquer relação com a referida carta.

O documento foi publicado no portal oficial do Governo chinês Wujie News a 4 de Março, na véspera do início da sessão anual da Assembleia Nacional Popular chinesa (órgão legislativo) e apagado logo a seguir.

Entretanto, quatro membros da equipa do "Wujie News" encontram-se desaparecidos desde a semana passada, segundo disse um jornalista daquele órgão à agência France Presse.

O conhecido jornalista chinês Jia Jia, que vive em Hong Kong, esteve detido vários dias, após ter questionado o diretor daquele portal sobre a carta.

Na China, o "papel dirigente" do PCC é um "princípio cardeal" e críticas aos líderes do partido na imprensa são praticamente inexistentes.

A referida carta começa por admitir algumas melhorias graças à campanha anti-corrupção lançada por Xi Jinping, mas de seguida ressalva que, devido à centralização de poderes pelo actual Presidente - o mais forte líder chinês das últimas décadas -, se está "a assistir a problemas sem precedentes".

Politicamente, Xi "debilitou o poder de todos os órgãos do Estado", inclusive a autoridade do primeiro-ministro, Li Keqiang, lê-se naquela missiva.

A mesma nota refere que a política externa chinesa abandonou o princípio ditado pelo antigo líder Deng Xiaoping de "esconder a força" e aponta como exemplo a crise na Coreia do Norte e a transferência de capacidade militar dos EUA para a Ásia.

No plano económico, cita a crise no mercado de capitais chinês e o excesso de capacidade de produção na indústria pesada como sinais de fracasso e critica ainda, a nível ideológico e cultural, o recente apelo de Xi à lealdade dos meios de comunicação oficiais para com o PCC.

"Em resultado, camarada Xi Jinping, sentimos que não possui as qualidades necessárias para liderar o Partido e a nação rumo ao futuro e que não está apto para o cargo de secretário-geral" do PCC, conclui.

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