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Estudo: 15% dos funcionários residiram em lares durante pandemia

05 de abril de 2021 às 11:08

Pandemia da covid-19 teve "consequências negativas em quem vive e trabalha" nestas instituições, apontam investigadores do CINTESIS.

Investigadores do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) concluíram, num estudo que envolveu 784 profissionais, que a pandemia é uma "oportunidade única" para redefinir prioridades e replanear os cuidados prestados aos que residem em lares.

Em comunicado, o CINTESIS explica hoje que o estudo, desenvolvido por investigadores da Universidade do Porto, de Aveiro e da Beira Interior, visava analisar a perspetiva dos profissionais das estruturas residenciais destinadas a idosos sobre o impacto da pandemia nos cuidados e as suas experiências de trabalho durante e após o primeiro confinamento.

No estudo participaram 784 profissionais, 80% dos quais pertencentes a Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS).

Citados no comunicado, os investigadores afirmam que os resultados do inquérito provam que a pandemia da covid-19 teve "consequências negativas em quem vive e trabalha" nestas instituições, expondo "vulnerabilidades" já existentes em termos de recursos humanos, físicos e psicossociais.

No estudo, mais de metade dos participantes admitiu uma "maior dificuldade em responder às necessidades básicas dos idosos, como higiene e alimentação, e em proporcionar-lhes atividades de ocupação, no respeito pelos seus direitos e pela sua autodeterminação".

"A pandemia legitimou um modelo de cuidados tradicional assistencialista, assente em procedimentos padronizados, que interpreta as pessoas idosas como um grupo homogéneo, recetor de cuidados passivos e que promove o paternalismo", acrescentam os investigadores.

Os profissionais queixaram-se ainda do "impacto nas suas condições de trabalho", com mais horas prestadas por turno, sendo que cerca de 15% dos participantes afirmaram ter residido nas instituições temporariamente para protegerem os utentes.

A sobrecarga de trabalho constitui "um risco não só para a saúde, segurança e bem-estar dos próprios profissionais, mas também para a prestação de cuidados".

Nesse sentido, os investigadores defendem que os lares e estruturas residenciais para idosos devem "reivindicar um maior investimento, político e financeiro, em recursos humanos, equipamentos, acompanhamento e intervenções", considerando a crise pandémica uma "oportunidade única" para implementar Cuidados Centrados na Pessoa.

"Neste modelo, os idosos são colocados no centro da dinâmica de cuidados, tendo um papel decisor ativo sobre a sua vida e o seu quotidiano", referem, acrescentando ser também "urgente iniciar, retomar e intensificar" programas de reabilitação e ocupações com os idosos.

O projeto, intitulado "Atenção Centrada na pessoa na prestação de cuidados na velhice: abordagens e instrumentos de avaliação", recebeu financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (ATC), através de uma bolsa de doutoramento atribuída à investigadora Maria Miguel Barbosa do CINTESIS/Universidade da Beira Interior (UBI).

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.847.182 mortos no mundo, resultantes de mais de 130,6 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 16.879 pessoas dos 823.335 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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