Secções
Entrar

Covas do Barroso ainda aguarda decisão do tribunal sobre reinício da prospeção de lítio

Lusa 24 de fevereiro de 2025 às 11:31

Uma providência cautelar apresentada por três proprietários contra a servidão administrativa emitida pelo ministério em dezembro levou à suspensão dos trabalhos na zona de Covas do Barroso, concelho de Boticas, distrito de Vila Real.

A apresentação de resolução fundamentada pelo Ministério do Ambiente não tem efeito imediato no reinício da prospeção de lítio, em Boticas, e deverá ser apreciada pelo tribunal, afirmam hoje num comunicado conjunto a associação UDCB, baldios e junta.

Leandro Coutinho

A Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB), a Comunidade Local de Baldios de Covas do Barroso e ainda a Junta de Freguesia local, numa tomada de posição conjunta divulgada hoje, referem que "contrariamente ao que foi anunciado pela empresa Savannah Resources no comunicado aos investidores de sexta-feira, a apresentação de resolução fundamentada não tem um efeito imediato e deverá ser apreciada pelo tribunal, que poderá ainda desconsiderar os argumentos apresentados pelo Ministério do Ambiente".

"Mais uma vez, a empresa comunica o que lhe convém em vez de se cingir aos factos", defendem.

Uma providência cautelar apresentada por três proprietários contra a servidão administrativa emitida pelo ministério em dezembro, que permite à Savannah aceder aos seus terrenos pelo período de um ano, levou à suspensão dos trabalhos na zona de Covas do Barroso, concelho de Boticas, distrito de Vila Real.

A providência deu entrada no Tribunal Administrativo e Fiscal de Mirandela. Cerca de duas semanas depois da paragem dos trabalhos no terreno, na quinta-feira, o Ministério do Ambiente deu entrada com uma resolução fundamentada, prevista na lei, para anular a suspensão da campanha de prospeções e, na sexta-feira, a Savannah Resources anunciou que pode retomar de imediato a prospeção de lítio.

"As comunidades de Covas do Barroso e Romainho lamentam ainda que tenham passado várias semanas desde a entrada em vigor da suspensão da servidão sem que esta esteja a ser respeitada no terreno", referem.

No comunicado justificam que o "despacho de admissão da providência cautelar suspende o ato de servidão e não apenas os trabalhos, o que implica a retirada das máquinas e todos os materiais colocados pela Savannah Resources e empresas que lhe prestam serviços".

"Consideramos que o Ministério de Ambiente está a agir de má-fé ao não ordenar a retirada das máquinas e que a conduta da Savannah Resources é criminosa por estar a invadir propriedade privada e comunitária", apontam.

Na resolução fundamentada, assinada pela ministra Maria da Graça Carvalho, é referido que se entende "por fundamentado que qualquer diferimento da execução do ato administrativo posto em crise em juízo é mais oneroso e gravemente prejudicial para o interesse público, devendo manter-se a sua plena eficácia".

"Sobre o alegado interesse público, cabe ressaltar que o Ministério do Ambiente não fundamenta a resolução na existência de uma declaração de interesse público emitida pelo anterior Governo, tal como o afirmou recentemente a senhora ministra. Não o faz porque a declaração não existe. O ministério limitou-se por isso a repetir uma narrativa de transição para o setor da mobilidade que, conscientemente, sacrifica pessoas, animais, fontes de água e o Património Agrícola Mundial do Barroso que estas representam", salienta o comunicado.

UDCB, baldios e junta consideram que um "Governo cuja conduta se pauta por políticas infundadas e pelo sacrifício de bens comuns em prol de interesses privados é um governo que perdeu a legitimidade para representar as populações que diz servir".

A servidão administrativa foi contestada por proprietários afetados e autarcas e permitiu à empresa retomar o trabalho de campo e as perfurações necessárias para o estudo definitivo (DFS) e o processo de conformidade ambiental do projeto lítio do Barroso, prevendo concluir estas etapas em 2025 e iniciar a produção em 2027.

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) viabilizou ambientalmente a exploração de lítio na mina do Barroso emitindo uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável condicionada em maio de 2023.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela