Secções
Entrar

Manter visita à Índia é uma homenagem a Soares, diz Santos Silva

09 de janeiro de 2017 às 18:16

Número dois do Governo regressou hoje a Lisboa vindo da Índia para estar presente nas cerimónias fúnebres de Mário Soares, falou aos jornalistas à entrada para o Mosteiro dos Jerónimos

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, considerou hoje que o facto de o primeiro-ministro manter a sua visita de Estado à Índia é "uma bela homenagem" a Mário Soares, que este compreenderia.

Augusto Santos Silva, número dois do Governo, que regressou hoje a Lisboa vindo da Índia para estar presente nas cerimónias fúnebres de Mário Soares, falava aos jornalistas à entrada para o Mosteiro dos Jerónimos, onde o corpo do antigo Presidente da República está em câmara ardente.

"O facto de o primeiro-ministro manter a sua visita de Estado à Índia é, do meu ponto de vista, uma bela homenagem que presta ao doutor Mário Soares. Tenho a absoluta certeza de que o doutor Soares compreenderia, exatamente porque uma das muitas coisas que o doutor Soares nos ensinou foi que, justamente quando exercemos funções públicas, assumimos responsabilidades, temos deveres, em relação ao Estado, em relação ao país", declarou.

"E o que o doutor António Costa está a fazer na sua visita de Estado muito importante à Índia é justamente a defender os interesses de Portugal", acrescentou o ministro dos Negócios Estrangeiros.

Augusto Santos Silva disse que a notícia da morte de Mário Soares foi recebida pela delegação do Governo português na Índia "com enorme tristeza e enorme emoção".

Questionado se não poderia ter substituído o primeiro-ministro nessa visita de Estado à Índia, Augusto Santos Silva respondeu: "A nossa decisão foi exatamente simétrica, e parece-me essa ser a decisão mais adequada. O que nós decidimos é que seria eu a interromper a visita, visto que eu não protagonizo a visita".

"Estava como ministro dos Negócios Estrangeiros, naturalmente, acompanhando o primeiro-ministro na visita de Estado. E, portanto, por um lado isso permite manter a visita de Estado na Índia liderada pelo primeiro-ministro, e ao mesmo tempo permite que o ministro dos Negócios Estrangeiros, como é sua responsabilidade, receba todas as delegações estrangeiras que vão assistir ao funeral e homenagear o doutor Mário Soares. E como também acontece que eu sou o número dois do Governo, isso significa que, neste momento, sou o primeiro-ministro em funções", completou.

Augusto Santos Silva recordou Mário Soares como "uma pessoa moderada, um democrata, socialista, europeu, que acreditava na possibilidade da coexistência pacífica entre pessoas e entre povos", que combateu tanto "os perigos da radicalização à esquerda", nos anos 70 e 80, como "os perigos da radicalização à direita", mais recentemente.

Instado a partilhar uma memória de Mário Soares, o ministro lembrou a "derrota política" que este lhe infligiu, a si e a outros da sua geração, logo após o 25 de Abril, nos tempos do chamado Processo Revolucionário Em Curso (PREC).

Santos Silva disse que, na altura, inserido "no meio esquerdista", desvalorizava a importância da instauração em Portugal de uma "democracia europeia, pluralista e parlamentar", ao contrário de Mário Soares, que a considerava essencial.

"E tinha inteira razão. Portanto, ainda bem que ele ganhou", acrescentou.

Mário Soares morreu no sábado, aos 92 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa.

O Governo português decretou três dias de luto nacional, até quarta-feira.

O corpo do antigo Presidente da República está em câmara ardente no Mosteiro dos Jerónimos desde as 13:10 de hoje, depois de ter sido saudado por milhares de pessoas à passagem do cortejo fúnebre pelas principais ruas da capital  com escolta a cavalo da GNR .

O  funeral realiza-se na terça-feira,  pelas 15:30, no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, após passagem do cortejo fúnebre pelo Palácio de Belém, Assembleia da República, Fundação Mário Soares e sede do PS, no Largo do Rato.

Nascido a 07 de dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares, advogado, combateu a ditadura do Estado Novo e foi fundador e primeiro líder do PS.

Após a revolução do 25 de Abril de 1974, regressou do exílio em França e foi ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, tendo pedido a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, e assinado o respetivo tratado, em 1985.

Em 1986, ganhou as eleições presidenciais e foi Presidente da República durante dois mandatos, até 1996.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela