O antigo primeiro-ministro foi esta quinta-feira ouvido, neste que é já o quarto dia de julgamento no âmbito da Operação Marquês. Trabalhos serão retomados na próxima terça-feira.
O antigo primeiro-ministro, José Sócrates, prestou esta quinta-feira declarações no tribunal, neste que é o quarto dia de julgamento no âmbito da Operação Marquês. Durante a sessão, negou que o seu Governo tivesse favorecido o grupo Lena, assim como garantiu nunca ter recebido dinheiro de nenhum primo. Reforçou que não é amigo de Salgado, o que não acontece com o ex-administrador da PT, com quem diz manter uma relação de amizade, e deixou duras críticas, não só a Belmiro Azevedo pelo seu "tom arrogante", assim como a um dos procuradores.
Sobre o alegado favorecimento ao grupo Lena, o antigo primeiro-ministro começou por mostrar dados que sugerem que o Governo de Sócrates teve "menos adjudicações" do que governos anteriores. "Uma das principais acusações que me são feitas é a que se refere à empresa Lena, [que sugerem que] durante o tempo do meu Governo protegi e favoreci a empresa Lena. Nada é mais falso."
José Sócrates admitiu que teve uma "relação de amizade" com o ex-administrador da PT. "Eu tenho uma admiração e um genuíno sentido de amizade [pelo Dr. Henrique Granadeiro]. Fui a casa dele, almoçámos. Isso é uma relação de amizade, não é a que eu tinha com Ricardo Salgado, por exemplo."
José Sócrates disse esta quinta-feira em tribunal que nunca esteve com o ex-CEO da PT, Zeinal Bava, exceto em ocasiões políticas. "Zeinal Bava cumpria as suas funções como CEO da PT e nunca teve a necessidade de falar comigo, nem eu nunca tive a necessidade de falar com o Dr. Zeinal Bava para apreciar as qualidades de gestão. Sei que ele era muito capaz. E, por isso, só estive com ele em ocasiões sociais ou acontecimentos políticos."
Questionado sobre se conhecia os planos estratégicos da PT garantiu não saber, mas defendeu: "A aposta na Vivo foi uma aposta de grande sucesso na PT. Lembro quando a PT comprou 50% da Vivo com a telefónica, das críticas que surgiram contra a PT."
Relativamente ao tema PT, o antigo primeiro-ministro disse: "Não tenho memória de visitas com o Dr. Belmiro de Azevedo em que tenha sugerido que o Governo mudasse de opinião. O Governo sempre teve uma posição de neutralidade."
José Sócrates foi confrontado, em tribunal, com uma carta da Sonae endereçada ao primeiro-ministro, onde Belmiro de Azevedo adiantava que não esperava o apoio do Governo. Sobre a mesma, Sócrates disse apenas: "O tom do engenheiro Belmiro de Azevedo era sempre de arrogância, de quem achava que estava a fazer um serviço ao País - coisa que não me afetava por aí além. Sempre achei que era um traço de personalidade. Afinal de contas, não há homens perfeitos. E eu sempre achei que fazia parte das minhas obrigações [aturar] essa arrogância. Mas uma coisa é a arrogância, outra é hipocrisia." Ao mesmo tempo, disse que nunca chegou a ler esta carta e que a mesma foi endereçada ao Ministério das Obras Públicas".
Confrontado com a chamada que realizou com Ricardo Salgado, o antigo primeiro-ministro disse: "Não sou amigo de Ricardo Salgado. Não frequento os seus meios sociais. Não sou amigo dos seus amigos. Nunca passei férias com ele. Nunca tinha ido à casa dele até à noite de 2014."
José Sócrates criticou esta manhã as perguntas do procurador referentes à gestão da atividade da PT e lamentou o facto de já ter respondido às mesmas questões várias vezes. "Há aqui perguntas que revelam desconhecimento de como a sociedade funciona. Nós estamos numa economia de mercado. O Estado tem as suas competências, mas não tem competências para dizer aos acionistas: 'façam assim ou assado'. Não pode impor uma solução. O dinheiro é dos acionistas", disse. Além disso, atirou: "Eu não sei se estamos no julgamento ou no Parlamento."
Já começou o quarto dia de julgamento de José Sócrates. Sessão teve início pelas 10h07.
O antigo primeiro-ministro, José Sócrates, chegou esta quinta-feira de manhã ao Campus de Justiça. Aos jornalistas considerou que "estamos a debater uma acusação gravíssima" e deixou mais uma vez duras críticas aos jornalistas. "Os jornalistas continuam a defender o Ministério Público", disse.
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