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Afinal, as pipocas no cinema foram proibidas por decreto

Até 8 de dezembro, é proibido o consumo de alimentos ou bebidas dentro das salas.

A entrada em vigor do novo estado de emergência levou a que fosse proibido comer pipocas ou consumir bebidas dentro das salas de cinema. O decreto, que se aplica até às 23:59 de 8 de dezembro, determina no que diz respeito aos eventos de natureza cultural, não se pode comer nem beber dentro das salas. 

"Nas áreas de consumo de cafetaria, restauração e bebidas destes equipamentos culturais [salas de espetáculos, de exibição de filmes cinematográficos e similares] devem respeitar-se as orientações definidas pela DGS para o setor da restauração, não sendo permitido o consumo de alimentos ou bebidas no interior das salas de espetáculo ou de exibição de filmes cinematográficos", lê-se no artigo 27.º. 

A lei do estado de emergência pede ainda que seja reduzida a lotação sempre que necessário e que os postos de atendimento estejam equipados com barreiras de proteção.

Associações do sector protestam

Para o diretor-geral da FEVIP -- Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais, Paulo Santos, esta foi "a cereja no topo do bolo para acabar com a atividade", depois de terem sido proibidas as sessões à noite (que representavam 40% de receitas da bilheteira) e ao fim de semana a partir das 13:00, já que as receitas dos bares (que normalmente representam um terço do total), eram, atualmente, muitas vezes superiores às de bilheteira.

Isto significa que, ainda assim, era a venda de pipocas e refrigerantes que ia ajudando a manter as salas abertas e em atividade, mas agora com esta proibição, muitos cinemas vão fechar, mesmo os grandes, que se veem incapazes de pagar as rendas, disse Paulo Santos.

"Parece-nos que esta decisão será a causa direta e adequada ao encerramento prematuro de alguns que já eram expectáveis, porque os apoios não estão a aparecer, as linhas de crédito que foram criadas não são aplicadas, na maioria dos casos, aos cinemas, e portanto, se isto fosse batalha naval, eu diria que esta última decisão foi um tiro no porta-aviões, porta-aviões ao fundo", disse Paulo Santos.

O responsável alerta ainda para a possível inconstitucionalidade da medida, uma vez que não está a ser aplicada de igual forma em diferentes setores.

"Quem tomou esta decisão esqueceu-se de uma coisa importantíssima. Nos aviões pode-se comer sem distanciamento social, nos restaurantes pode comer-se, e bem, com distanciamento social inferior ao que existe dentro nas salas de cinema, porque a disposição dos lugares é feita na diagonal, sem lugares à frente e atrás, o que deixa sempre um espaço nunca inferior a 1,80 metros/2 metros, e, portanto, se nos outros sítios com menos distanciamento social, se pode comer e aqui não, parece-me a mim que se violou o principio da igualdade e da proporcionalidade consagrado constitucionalmente, o que é extremamente grave".

Na opinião do também diretor-geral da GEDIPE -- Associação para a Gestão de Direitos de Autor, Produtores e Editores, "alguém tomou esta decisão sem pensar nas consequências, completamente desenquadrado da realidade, porque não há lugares seguros hoje em dia, mas não há um único caso conhecido de contaminação dentro de sala de cinema em Portugal".

As preocupações com esta "decisão não ponderada e não pensada e que viola dispositivos constitucionais" já foi transmitida à tutela e vai ser transmitida a outros ministérios, adiantou Paulo Santos.

"Esperamos que vão a tempo de corrigir", afirmou, confessando, no entanto, não ter muita esperança, porque vê um "desnorte muito grande", em que se promete o céu e se dá o inferno às pessoas".

Paulo Santos prevê que resultem desta medida mais de mil desempregados, que vão engrossar as filas dos centros de emprego, e contou que já foi contactado por trabalhadores deste setor a chorar, pelo receio de perderem o emprego e a fonte de rendimento e sustento da família.

"Isto é terrível para quem esta nesta área a assistir a estes dramas, que são diários, são reais, são com pessoas reais, e a que não são dadas respostas que poderiam ser e de uma forma muito simples: linha de crédito específica".

Deste modo, "empurrávamos o problema para a frente" e quando o mercado recuperasse - o mercado é economicamente viável (no ano passado foram 15 milhões de pessoas a salas de cinema) - pagavam os seus empréstimos e "o Estado não ficava a perder rigorosamente nada", acrescentou.

"Vamos aguardar quais vão ser as decisões politicas, mas com muito pouca esperança, porque fala-se muito e faz-se muito pouco".

No começo deste mês, a FEVIP alertava que mais de metade das salas de cinema pode encerrar até ao final do ano se não houver mecanismos de apoio face à pandemia da covid-19.

"Estamos a atravessar um período negro, de que ninguém tem culpa e temos de encontrar soluções, todos, que nos permitam ultrapassar isto, sob pena de fechar", afirmou, na altura, Paulo Santos.

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