Secções
Entrar

Operação Marquês: Sócrates garante que Carlos Santos Silva é "honestísssimo"

30 de outubro de 2019 às 22:04

Juiz Ivo Rosa questionou, durante quase seis horas de interrogatório, o antigo primeiro-ministro sobre a sua relação com Carlos Santos Silva, de quem Sócrates recebeu dinheiro, segundo a acusação, a troco de benefícios para o grupo Lena.

O ex-primeiro-ministroJosé Sócratesclassificou, esta quarta-feira, de "infeliz e imprópria" uma declaração do procurador Rosário Teixeira e pede que ele se retrate. A afirmação do antigo governante foi feita à entrada para o terceiro dia de interrogatório da fase de instrução daOperação Marquês, na qual é acusado de crimes económicos.

"Hoje reparei numa declaração do senhor procurador que dizia que no final se faziam as contas. Considero-a completamente infeliz e imprópria", afirmou.  O antigo primeiro-ministro vincou que a frase do procurador do Ministério Público que liderou a investigação "é muito reveladora daquilo que esteve sempre na base deste processo". Isto é "uma motivação pessoal", concluiu Sócrates.

1 de 6
Foto: Lusa
Foto: Lusa
Foto: Lusa
Foto: Lusa
Foto: Lusa
Foto: Lusa


Na terça-feira, o procuradorRosário Teixeiradisse a alguns jornalistas que Sócrates pode dizer o que entender nesta fase processual porque no final é que se fazem as contas, respondendo ao facto de o ex-governante ter apelidado a acusação de "delirante". Rosário Teixeira, à entrada para o tribunal não se furtou a falar aos jornalistas para dizer que não atacou ninguém, que "é uma invenção" e que não falou em "ajuste de contas". "Esta é a fase da defesa, os arguidos podem dizer o que quiserem e as contas fazem-se no final depois de apreciada toda a prova" afirmou. O procurador lembrou que o papel do Ministério Público é "sustentar a prova e fazer a leitura dos indícios de forma a construir uma acusação".

De acordo com aLusa, o juiz Ivo Rosa questionou, durante quase seis horas de interrogatório, o antigo primeiro-ministro sobre a sua relação com Carlos Santos Silva, de quem Sócrates recebeu dinheiro, segundo a acusação, a troco de benefícios para o grupo Lena. O antigo governante defendeu o seu amigo e também arguido na Operação Marquês Carlos Santos Silva, dizendo que ele é "honestíssimo".

A construção de 50 mil casas na Venezuela, no tempo do Presidente Hugo Chavez, pelo Grupo Lena, segundo a acusação a troco de benefícios financeiros de vários milhões para Sócrates, foi outro dos temas tratados hoje, segundo as fontes, tendo, mais uma vez, o ex-governante negado tudo e até exibido um documento elaborado pelo seu gabinete, na altura, que funcionaria como um guião sobre os assuntos a tratar com o chefe de Estado venezuelano e no qual não constava o grupo empresarial da zona de Leiria.

A acusação do Ministério Público considera que Sócrates terá recebido do Grupo Lena, através do seu ex-administrador Joaquim Barroca, também arguido, luvas de mais de 2,8 milhões de euros e que globalmente foi subornado com seis milhões de euros para favorecer o grupo em vários negócios, com especial incidência na Venezuela.

O antigo primeiro-ministro disse também ao juiz que desconhecia os negócios da XLM -- Sociedade de Estudos e Projetos, empresa de Carlos Santos Silva, que também é arguida no processo e para a qual a sua ex-mulher alegadamente trabalhou, indicaram as fontes.

Para a acusação, Sofia Fava beneficiou de transferências de dinheiro do ex-marido não declaradas às autoridades tributárias e de Carlos Santos Silva que utilizou para pagar o Monte das Margaridas, verba que lhe foi dada após a simulação de uma relação de trabalho com empresas lideradas por este último, tais como a XLM - Sociedade de Estudos e Projetos Lda.

O interrogatório prossegue na tarde de quinta-feira, mas, segundo a mesma fonte, há fortes probabilidades de não se conseguir terminar no mesmo dia esta fase de defesa do antigo primeiro-ministro que tenta, perante o juiz, evitar ser julgado por corrupção, branqueamento de capitais, falsificação de documento e fraude fiscal.

Para quinta-feira está previsto que Sócrates seja confrontado com o dinheiro que recebeu de contas de Carlos Santos Silva e que sempre justificou como "empréstimos" do amigo, mas que para o Ministério Público fazem do empresário o "testa de ferro" do antigo governante socialista.

Sócrates está acusado de corrupção, branqueamento de capitais, falsificação de documento e fraude fiscal qualificada. Ao todo, a Operação Marquês conta com 28 arguidos, acusados de 188 crimes.

Considera o MP que Sócrates recebeu, entre 2006 e 2015, um total de 34 milhões de euros, a troco de favorecimento a interesses do Grupo Espírito Santo, na concessão de financiamento por parte do banco público ao empreendimento Vale do Lobo e ao Grupo Lena, dinheiro esse que terá sido movimentado por contas de Carlos Santos Silva, o empresário amigo do ex-governante também acusado neste processo.

A fase de instrução, facultativa e requerida por 19 arguidos, visa apurar se existem indícios suficientes para o processo seguir para julgamento e, se sim, em que termos.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela