Motorista atacado durante tumultos: "Eles não me deixaram sair" do autocarro
Motorista ficou com graves queimaduras no corpo. Diz sentir "alívio" perante as detenções de duas pessoas por homicídio tentado.
O motorista de autocarro alvo do ataque a 23 de outubro, em tumultos relacionados com a morte de Odair Moniz baleado por um agente da PSP, revelou sentir-se aliviado com as detenções. "Revivo eles não me deixarem sair do autocarro, revivo eles a mandarem literalmente osmolotovspara cima de mim, e o fogo e a aflição", afirmou omotoristaà TVI.
"Eu pedi para me deixarem sair, mas não me deixaram sair. Eu tento fechar as portas, há um indivíduo que entra pela porta do meio, aponta-me a arma à cabeça e diz 'tu não sais'", relatou. "Ele dá faísca e conforme dá faísca, eu começo a pegar fogo."
Três pessoas foram hoje detidas na operação da Polícia Judiciária (PJ) em Loures, distrito de Lisboa, relacionada com o incêndio num autocarro em Santo António dos Cavaleiros que em outubro feriu gravemente o motorista, adiantou à Lusa fonte policial.
De acordo com fonte policial, a operação resultou em três detidos e as investigações prosseguem.
Fonte da PJ tinha avançado hoje de manhã à Lusa que a operação, envolvendo vários inspetores da diretoria de Lisboa da PJ, cumpriu mandados de busca e que vários suspeitos estavam a ser ouvidos, adiantando estar em causa o crime de homicídio na forma tentada.
Os suspeitos são alegadamente os responsáveis pelo incêndio e ataque direto contra um autocarro em Santo António dos Cavaleiros, em Loures.
O autocarro da Carris Metropolitana já estava sem passageiros quando se deu o incidente, mas o motorista, que ainda estava no interior, sofreu "queimaduras graves na face, tórax e membros superiores", adiantou na altura a PSP.
De acordo com fonte da Rodoviária de Lisboa, operador para o qual trabalha o motorista, este teve "alta hospitalar a semana passada, encontrando-se em recuperação em casa".
O cabo-verdiano Odair Moniz, de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de 21 de outubro, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois.
Nos tumultos que sucederam à sua morte, nos dias seguintes, foram incendiados mais autocarros, dezenas de automóveis e contentores do lixo, mas o ataque que deixou em estado grave o motorista é o mais grave em investigação.
De acordo com a versão oficial da PSP, Odair Moniz ter-se-á posto "em fuga" de carro depois de ver uma viatura policial e despistou-se na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca".
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação "séria e isenta" para apurar responsabilidades, considerando que está em causa "uma cultura de impunidade" nas polícias.
As autoridades desencadearam inquéritos, mas ainda não são conhecidas conclusões.
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