Secções
Entrar

Golfinhos em risco de desaparecer das águas nacionais por captura acidental

12 de julho de 2018 às 15:15

Já morreram 27 golfinhos durante o primeiro semestre de 2018 em águas portuguesas.


1 de 3
Foto: António Cotrim/Lusa
Foto: Cofina Media
Foto: Rui Minderico/Cofina Media

O primeiro semestre de 2018 foi marcado pela morte de 27 golfinhos na costa portuguesa, número superior aos anos anteriores e atribuído à captura acidental, o que poderá apressar a extinção da espécie nas águas nacionais, revelaram investigadores.

"A presença destes golfinhos em águas nacionais pode desaparecer por completo em menos que 20 anos", alertou esta quinta-feira uma equipa de biólogos da Universidade de Aveiro (UA) e da Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem (SPVS).

Dos 27 golfinhos mortos registados na costa, entre Janeiro e Junho de 2018 (conhecidos por botos no norte do país), 25 foram encontrados entre o Minho e a Nazaré. Destes, a grande maioria foi encontrada entre o Porto e a Nazaré e, segundo a equipa de biólogos, "as marcas que alguns cadáveres apresentam, como barbatana caudal amputada ou marcas lineares no corpo, indicam que os animais foram apanhados acidentalmente por redes de pesca".

"Este valor já ultrapassa em muito os valores registados para o primeiro semestre dos anos anteriores", aponta Catarina Eira, bióloga do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro.

Coordenadora de um projecto dedicado à conservação de espécies marinhas portuguesas como o boto e o roaz, que é co-financiado por fundos europeus, o LIFE marpro (2011-2017), Catarina Eira aponta a zona entre o Porto e a Nazaré, onde um terço dos botos está concentrado, como "a mais preocupante" para a conservação da espécie.

"A zona entre o Porto e a Nazaré concentra uma actividade de pesca bastante intensa. Apesar dos esforços desenvolvidos pelos pescadores para evitarem as capturas acidentais, a arte xávega acaba por ser responsável por uma parte da mortalidade", refere.

Outro factor é a quantidade considerável de pesca ilegal na zona, normalmente realizada por pequenas embarcações muito perto da costa que, "além de prejudicar os pescadores que desenvolvem a sua actividade de acordo com a lei, por ser muito costeira, também ocasiona alguma mortalidade de boto".

Catarina Eira considera crucial que se aprove a classificação como Sítio de Importância Comunitária (uma figura de protecção ambiental da Rede Natura 2000) da zona marinha entre a Praia da Maceda (Ovar) e a Praia da Vieira (Leiria), pela abundância de botos que alberga.

Graças à consciencialização e colaboração dos pescadores, a equipa do projecto LIFE marpro conseguiu testar diferentes artes de pesca e materiais de redes, para perceber o que poderia diminuir o número de capturas acidentais. Foi assim que descobriram que uma das soluções mais eficazes é o uso depingers, pequenos aparelhos electrónicos que se fixam às redes de pesca e que emitem um som que avisa os cetáceos sobre a presença da rede, embora seja ainda uma tecnologia cara.

"Com a aprovação do Sítio [de Importância Comunitária] poderia ser posto em prática o Plano de Gestão também proposto para estas áreas, o qual inclui várias medidas que podem prevenir a extinção do boto em Portugal como o alargamento do uso depingers a todas as redes de xávega, o combate à pesca ilegal ou o ensaio de novas medidas de mitigação de capturas em redes de cerco e fundeadas", conclui.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela