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Escolas estão a informar Governo sobre alunos sem net ou computador

30 de março de 2020 às 19:42

Ministério da Educação está a receber informações das escolas quanto a alunos sem acesso à internet ou computador. Governo decidiu encerrar as escolas e manter o ensino à distância no dia 16 de março.

Os diretores das escolas estão a enviar esta semana para os serviços do Ministério da Educação informações sobre os alunos sem acesso à internet ou computador e acreditam que o terceiro período começará com menos estudantes excluídos.

Desde que o Governo decidiu encerrar as escolas e manter o ensino à distância (desde 16 de março), devido à disseminação do novo coronavírus, que pais e professores têm alertado para os casos de alunos que não conseguem acompanhar as aulas porque não têm internet ou computador em casa.

Na semana passada, o presidente da Associação Nacional de Diretores e Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, apelou ao Ministério da Economia e da Transição Digital que garantisse as condições para que nenhum aluno ficasse excluído, lembrando que as escolas tinham o levantamento de quem precisava de internet ou computador.

"Estamos à espera que o Ministério da Economia nos venha pedir estes números", sublinhou na altura Filinto Lima em declarações à Lusa.

A Lusa questionou hoje Filinto Lima e Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), sobre se tinham sido contactados e ambos confirmaram que esse trabalho já está a ser feito.

"O Ministério da Educação está a fazer esse levantamento. Estão a pedir às escolas para que, durante esta semana, entreguem esses dados. Mas lembramos que é muito importante que se passe da teoria à prática", afirmou Filinto Lima.

Manuel Pereira também confirmou à Lusa esta informação e saudou a iniciativa do Ministério da Educação de "querer ter um conhecimento muito claro da realidade, já que por vezes as percentagens escondem realidades muito diversas".

Os números mais recentes do Instituto Nacional de Estatística, relativos a 2019, indicam que 5% das famílias com estudantes até aos 15 anos não têm internet em casa.

Manuel Pereira lembrou que haverá zonas "no litoral, onde mais de 99% dos alunos têm internet e depois existem zonas do interior onde a percentagem dispara".

Filinto Lima voltou hoje a defender que "o digital não é um luxo, mas sim uma necessidade" e que é preciso dotar as casas com internet e equipamentos para que os alunos consigam acompanhar as aulas.

Os dois representantes dos diretores salientaram ainda que todas as medidas adicionais que sejam postas em prática serão benéficas para os alunos e acreditam que no 3.º período, que começa dentro de duas semanas, haverá muito menos alunos excluídos.

Segundo Filinto Lima e Manuel Pereira tem havido um envolvimento de toda a comunidade para tentar reduzir as desigualdades sociais.

"Há autarquias, juntas de freguesia, associações e até escolas que estão a ceder os seus computadores para emprestar aos alunos", lembrou Filinto Lima, que acredita que "o 3.º período vai começar com menos constrangimentos".

Nas últimas duas semanas de aulas antes das férias da Páscoa, que começaram hoje, "houve alunos que foram contactados pelo telefone fixo", acrescentou Manuel Pereira.

O Ministro da Economia avançou este fim-de-semana com a hipótese do regresso de usar os canais "Youtube" e a "TVCabo" para ensinar os alunos que estão em casa.

Hoje, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, apontou como solução mais provável o uso dos canais de sinal aberto, até porque chegam a muito mais famílias.

 "Todos os meios são bons para tentarmos chegar a mais alunos, mas se nem todos têm internet, ainda são menos os que têm TVcabo, alertou Filinto Lima, referindo-se à proposta do ministro da Economia, que "deixa 17% dos portugueses de fora".

Também Manuel Pereira considera mais plausível usar os canais de sinal aberto, como a RTP2 ou o Canal Parlamento, para voltar a ter uma espécie de Teleescola.

Os primeiros casos confirmados da covid-19 em Portugal foram registados a 02 de março, e o país encontra-se em estado de emergência desde 19 de março até 02 de abril


Horários de alunos serão adaptados ao ensino à distância

Os diretores das escolas avisam que os horários das aulas no 3.º período terão de ser adaptados à nova realidade do ensino à distância e que os professores continuam a estudar as melhores formas de ensinar.

"Tenho vários professores que admitiram que ficaram praticamente arrasados com as duas últimas semanas de aulas", contou à Lusa o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, defendendo que será preciso "adaptar os horários" dos alunos.

Para tentar controlar a propagação do novo coronavírus, o Governo decidiu em 16 de março encerrar as escolas e avançar com aulas à distância.

Em poucos dias, os professores tiveram de se adaptar às mudanças e começar a ensinar através de plataformas online ou do envio de trabalhos por email.

Foram duas semanas "muito exigentes", segundo Manuel Pereira. "Os professores entraram num ritmo impensável", lembrou, explicando que ter cinco turmas em ensino presencial é diferente de ter "cem alunos" à distância.

O ensino à distância obriga a que o professor esteja atento às diferentes realidades de cada aluno e que consiga perceber e acompanhar as dificuldades de cada um. Só no ensino básico e secundário, mais de um milhão de alunos continuou a ter aulas sem sair de casa.

Em poucos dias os professores tiveram de adaptar as aulas presenciais ao ensino à distância. As plataformas digitais passaram a ser as novas salas de aula.

"Havia professores para quem estes instrumentos de trabalho eram desconhecidos e que hoje são verdadeiros craques", corroborou Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores e Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).

Além disso, muitos docentes estiveram a dar aulas de casa ao mesmo tempo que também tinham de acompanhar os filhos e fazer refeições, lembram os sindicatos de professores.

Ainda há muitas dúvidas sobre como será o terceiro período, mas neste momento há já uma certeza: "os horários de trabalho terão de ser adaptados", alerta Manuel Pereira.

 "No terceiro período, que já se percebeu que vai começar com o ensino à distância, é preciso ocupar os alunos de forma estimulante. Não há interesse em simplesmente manter os alunos o dia inteiro ligados", defendeu Manuel Pereira.

"Não é possível que os alunos estejam em casa a cumprir um horário como até aqui. Teremos de planificar o trabalho futuro à luz dos 15 dias de aulas que tivemos", concluiu Manuel Pereira.

Hoje, os professores começaram as reuniões de avaliação dos alunos e os diretores garantem que estes encontros de docentes, à distância, também estão a servir para discutir métodos de trabalho usados nas últimas duas semanas de aulas.

A Lusa falou com vários professores que reconhecem que não existe uma solução perfeita, já que todas as opções têm vantagens e desvantagens.

Além dos casos dos alunos sem acesso à internet -- 5% das famílias com crianças até aos 15 anos -- existem outros impedimentos que os docentes dizem estar a enfrentar.

O e-mail é a forma mais acessível, mas não permite uma comunicação imediata com o aluno.

As plataformas de videoconferência recriam um ambiente mais semelhante ao de uma sala de aula mas podem ser impeditivas no caso de haver vários alunos em casa ou pais em teletrabalho: Se não houver um computador para cada aluno, ele pode perder a aula, já que esta tem uma hora para começar e outra para acabar.

Entretanto, o Ministério da Educação falou na possibilidade do regresso de uma espécie de telescola, cujos conteúdos seriam transmitidos em canal aberto, em canais de televisão como a RTP2 ou o Canal Parlamento.

 Para os diretores escolares, todas as medidas que permitam aumentar as possibilidades de acesso ao conhecimento são bem-vindas.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 727 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 35 mil.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

Em Portugal, o primeiro caso registou-se no inicio do mês e atualmente já existem mais de seis mil casos de infeção e 140 mortes.

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