Diretor do Centro Hospitalar de Setúbal demite-se por falta de condições
Nuno Fachada justificou a decisão com a situação de rotura nas urgências médicas, obstétrica e "dificuldades noutras escalas como a pediatria e cirurgia".
O diretor clínico do Centro Hospitalar de Setúbal, Nuno Fachada, apresentou a demissão do cargo, justificando a decisão com a situação de rotura nas urgências, entre outros motivos, de acordo com informação a que a Lusa teve hoje acesso.
Contactado pela agência Lusa, o diretor confirmou a demissão, mas não quis prestar, para já, mais declarações.
O Centro Hospitalar de Setúbal também confirmou "o pedido de demissão do diretor clínico", informando apenas "que o mesmo seguirá os trâmites normais".
Numa informação enviada por Nuno Fachada aos colegas, o médico alega um conjunto de dificuldades no centro hospitalar como justificação para a sua saída.
A "situação de rotura e agravamento nas urgências médicas, obstétrica, EEMI [Equipa de Emergência Médica Intra-Hospitalar]", assim como "dificuldades noutras escalas como a pediátrica, cirúrgica, via verde AVC, urgências internas, etc", são algumas das razões apontadas pelo diretor demissionário.
A mesma informação refere também a "falta de condições de atratividade dos médicos", "insuficiência ou não abertura de vagas sinalizadas", "dezenas de cortes mensais de salas operatórias" e "rotura em vários serviços por êxodo" de profissionais de várias especialidades.
Nuno Fachada justifica ainda a demissão com a "não resposta sobre a requalificação e financiamento do CHS [Centro Hospitalar de Setúbal] para grupo D", "afastamento e colapso dos cuidados primários de saúde, agravando as dificuldades dos doentes", assim como "incertezas quando ao ecletismo, adaptação e capacidade das obras das urgências".
"Assim, só restaria a solução de romper com a situação vigente. Romper com a aceitação de continuarmos a ver o estertor do SNS [Serviço Nacional de Saúde], capturado por uma estrutura burocrática pesadíssima e crescente, que asfixia e parasita aquilo que melhor foi feito nas últimas quatro décadas e que tornou Portugal num país avançado, longe das altas taxas de mortalidade infantil e da baixa esperança média de vida", salienta o diretor num 'email' institucional enviado aos colegas.
"Agora que assistimos ao abrandamento da pandemia, o benefício da dúvida dado às instâncias para olharem de outro modo para o CHS [Centro Hospitalar de Setúbal], seja na questão dos recursos médicos e outros profissionais, seja na requalificação do CHS, não se cumpriu, antes se agravou", acrescenta.
Em agosto, o diretor do serviço de Obstetrícia do Hospital de Setúbal, Pinto de Almeida, também se demitiu do cargo devido à falta de profissionais, o que obrigou ao encerramento da urgência naquele mês, revelou a Ordem dos Médicos.
No mesmo mês, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) alertou que a falta de clínicos no hospital de Setúbal estava a pôr em risco a segurança das urgências e apelou ao encerramento deste serviço quando "os critérios mínimos não estejam assegurados".
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