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Dezenas de casas inundadas às portas de Coimbra: "Já não tive tempo de tirar nada"

21 de dezembro de 2019 às 15:23

Cerca de três dezenas de casas foram inundadas na madrugada deste sábado pelo Rio Ceira, numa das maiores cheias de que a população tem memória.

Cerca de três dezenas de casas foram inundadas na madrugada deste sábado pelo Rio Ceira, afluente do Mondego, nas localidades de Cabouco e Conraria, às portas de Coimbra, numa das maiores cheias de que a população tem memória.

O presidente da Junta de Freguesia de Ceira, Fernando Santos, disse à agência Lusa que, na localidade de Cabouco, "15 a 20 casas estão inundadas" e que a situação "não vai melhorar até ao final do dia".

"Estou no cargo há seis anos, mas seguramente que nem a cheia de 2001 chegou a estes níveis", disse o autarca, salientando que esta é uma "cheia à antiga".

Segundo Fernando Santos, a forte precipitação da depressão Elsa fez subir o caudal do rio mais de dois metros, sendo que "da noite de quinta-feira estava com 1,5 metros e na madrugada de hoje registou mais 70 ou 80 centímetros".

O autarca realça que o Ceira sofre de dois problemas: "é um rio selvagem, sem monitorização, e as descargas da barragem da Aguieira para o Mondego, que faz com que a água do Ceira recue, como aconteceu".

Na Conraria, um mar de água cobre campos agrícolas, sobretudo da Quinta Pedagógica da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC), em que apenas o telhado das estruturas de arrumos e as copas das laranjeiras se veem.

Na garagem de Carlos Soares, viveirista e operador de máquinas agrícolas, a água tem um metro de altura, que já depois do meio-dia não dava mostras de baixar.

"Já prevíamos uma cheia, mas nunca pensámos que era uma cheia desta natureza, que é culpa das barragens, porque as águas subiam do Mondego para o Ceira", disse à agência Lusa, lamentando que a população não tenha sido informada pelas autoridades do que ia suceder.

Carlos Soares salienta que não se recorda de uma cheia desta dimensão "há cerca de 20 anos".

"Esta é uma das mais fortes que conheço. Antes das barragens, as cheias eram grandes, mas não se mantinham tanto tempo, agora há barragens, mas outros interesses", frisou o morador.

Na sexta-feira, refere, o caudal estava a baixar e "o leito voltou a corre normal", mas tudo se complicou na última noite, numa situação que atribui às descargas da barragem da Aguieira.

Na casa ao lado, de Germano Lourenço, guarda-noturno na APCC, a água entrou de madrugada na habitação e subiu mais de 20 centímetros, causando estragos na cozinha, sobretudo nos eletrodomésticos, móveis e sofás.

"Cheguei a casa às 04h00 e já não tive tempo de tirar nada. Estava sozinho com a minha esposa e não conseguimos retirar nada para o piso de cima", salientou à agência Lusa, referindo que reside na localidade desde 2002 e nunca viu "nada assim".

O Parque Verde do Mondego, que ocupa as duas margens em Coimbra, também está inundado.

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