O meu maior sonho era ser privatizado. Que o Estado me pusesse à venda a uma empresa brasileira jeitosa (sempre gostei de caipirinhas e forró) ou a um conglomerado francês (tenho saudades de Paris e Cannes). Adorava que me capitalizassem todo, enriquecendo a minha frota de expectativas mas preservando os meus direitos adquiridos ao emprego (com uma cláusula de proibição de despedimento até à morte de Manoel de Oliveira ou do Sistema Solar – o que vier primeiro), à antiguidade na carreira, ao seguro de saúde, ao seguro de vida, à frequência gratuita dos melhores hotéis do planeta, ao subsídio de levantar o rabo da cama, ao prémio de aterrar em casa, à felicidade e à eterna juventude, tudo devidamente formalizado no caderno de encargos.

Voar alto

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