Sábado – Pense por si

Pedro Marta Santos
Pedro Marta Santos
24 de novembro de 2020 às 07:00

O caminhante

As cidades, como os gatos, revelam-se à noite, e é revelador que, ao pôr do sol, as tenhamos entregado aos delinquentes e aos traficantes, mas também aos pedintes e aos sem-abrigo. A cidade nocturna e deserta está à nossa espera

Saiu de casa pelas 8 horas de uma noite nebulosa de Novembro, lançando-se à rua como um coleccionador de solidão. O mundo tinha sido obrigado a prescindir da cidade nocturna, e circulava-se apenas por meios mecânicos e insondáveis. Proibiram-se os passeios a pé, porque caminhar era um gesto de liberdade. Quem anda sem controlo pelas travessas e avenidas da metrópole pode ir a qualquer sítio: o imprevisto mata a vigília. Enquanto ia avançando por ruas desertas, geometricamente limpas e desprovidas de vida, reparou na luz intensa e rectangular que emoldurava os rostos das famílias insones, saída dos televisores reproduzindo sem pausas os conselhos do Governo, através de novo caixilho, o das janelas de apartamentos semelhantes, prédios similares, por quarteirões iguais. Reparou numa folha no asfalto, a prova possível da Natureza na pedra. Uma folha tão folha, pensou.

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