Sábado – Pense por si

Pedro Marta Santos
Pedro Marta Santos
24 de novembro de 2020 às 07:00

O caminhante

As cidades, como os gatos, revelam-se à noite, e é revelador que, ao pôr do sol, as tenhamos entregado aos delinquentes e aos traficantes, mas também aos pedintes e aos sem-abrigo. A cidade nocturna e deserta está à nossa espera

Saiu de casa pelas 8 horas de uma noite nebulosa de Novembro, lançando-se à rua como um coleccionador de solidão. O mundo tinha sido obrigado a prescindir da cidade nocturna, e circulava-se apenas por meios mecânicos e insondáveis. Proibiram-se os passeios a pé, porque caminhar era um gesto de liberdade. Quem anda sem controlo pelas travessas e avenidas da metrópole pode ir a qualquer sítio: o imprevisto mata a vigília. Enquanto ia avançando por ruas desertas, geometricamente limpas e desprovidas de vida, reparou na luz intensa e rectangular que emoldurava os rostos das famílias insones, saída dos televisores reproduzindo sem pausas os conselhos do Governo, através de novo caixilho, o das janelas de apartamentos semelhantes, prédios similares, por quarteirões iguais. Reparou numa folha no asfalto, a prova possível da Natureza na pedra. Uma folha tão folha, pensou.

Para continuar a ler
Já tem conta? Faça login

Assinatura Digital SÁBADO GRÁTIS
durante 2 anos, para jovens dos 15 aos 18 anos.

Saber Mais
Bons costumes

Um Nobel de espinhos

Seria bom que Maria Corina – à frente de uma coligação heteróclita que tenta derrubar o regime instaurado por Nicolás Maduro, em 1999, e herdado por Nicolás Maduro em 2013 – tivesse melhor sorte do que outras premiadas com o Nobel da Paz.

Justa Causa

Gaza, o comboio e o vazio existencial

“S” sentiu que aquele era o instante de glória que esperava. Subiu a uma carruagem, ergueu os braços em triunfo e, no segundo seguinte, o choque elétrico atravessou-lhe o corpo. Os camaradas de protesto, os mesmos que minutos antes gritavam palavras de ordem sobre solidariedade e justiça, recuaram. Uns fugiram, outros filmaram.

Gentalha

Um bando de provocadores que nunca se preocuparam com as vítimas do 7 de Outubro, e não gostam de ser chamados de Hamas. Ai que não somos, ui isto e aquilo, não somos terroristas, não somos maus, somos bonzinhos. Venha a bondade.