Sábado – Pense por si

Pedro Marta Santos
Pedro Marta Santos
31 de julho de 2018 às 07:00

O barão Cohen

Em Portugal, os millennials vivem em perpétua corrida académica, sem casa própria (só arrendada, e a preços do Dubai para Lisboa ou Porto), sem poupanças e desprovidos de qualquer tipo de estabilidade laboral

Com o seu novo programa, Who Is America, para a cadeia televisiva norte-americana Showtime, o londrino Sacha Baron Cohen, anjo negro do humor, cáustico como hidróxido de sódio nas canalizações da nossa má consciência, leva ao limite a táctica de confrontar os ingénuos, os preconceituosos e os idiotas com a estupidez das suas acções. Mas há uma novidade, e ela é aterradora: nos anos de Bush filho, quando Cohen despontou, havia consequências – mais não seja políticas – dos testemunhos tresloucados que o humorista recolhia. Agora, fica tudo exactamente na mesma. No primeiro episódio da série, vários congressistas e senadores dos EUA são facilmente persuadidos pela personagem israelita de Cohen, o coronel Erran Morad, a gravarspotspromocionais do seu projecto governamental Kinderguardians, destinado a armar crianças de 3 e 4 anos – como Joe Wilson, congressista da Carolina do Sul, quando garante que "uma criança de 3 anos não se pode defender de uma pistola de assalto lançando ao ar um lápis da Hello Kitty". Mas esta e outras mensagens não são demasiado diferentes do que muitos republicanos, lobistas oficiosos da NRA (National Rifle Association, a mais poderosa organização pró-armas do país), já berram à porta das câmaras representativas de Washington. Alguns dos entrevistados mais inefáveis – Sarah Palin, o congressista da Flórida Matt Gaetz, o ex-xerife do Arizona Joe Arpaio – têm vindo a público reclamar que foram ludibriados por Cohen. O facto de protestarem pelo ardil é secundário. O que importa é a genuinidade e a convicção colocadas no que dizem, mesmo no contexto deWho Is America.

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