António Costa e o PS: confirma-se, as vacas voam mesmo
Haverá quem diga que a indiferença de Costa o desumaniza. Eu digo outra coisa: é esse o segredo que mais e melhor explica o seu sucesso
É possível juntar 1700 pessoas alegadamente livres – e, supõe-se, maioritariamente inteligentes - numa sala, dar-lhes três minutos para falar sobre questões tão diversas como a Europa, a economia, a saúde, a educação, os transportes, a segurança social, o emprego ou o ambiente e, ainda assim, conseguir total unanimismo? Resposta: claro que não. Qualquer neurocientista mediano explicaria que é materialmente impossível que os milhares de milhões de ligações neuronais que formam os cérebros de tantos indivíduos respondam da mesma forma, ao mesmo tempo, perante as mesmas interrogações. O que necessariamente nos força a concluir que o que ontem e durante o dia de hoje se passou no congresso do Partido Socialista está para além da ciência, não é explicável à luz da razão. Porque no mundo da ciência as vacas não voam, assim como no universo da razão não são os passarinhos que vão parar ao talho. Mas se alguma coisa António Costa já provou na liderança do PS é que com ele ao leme tudo é possível. Vejamos. O Bloco de Esquerda abomina a Europa e defende a reestruturação da dívida externa. O Partido Comunista abomina a educação privada e deseja secretamente nacionalizar a banca. Os bloquistas defendem a eutanásia sem reservas. Os comunistas querem fazer inchar o Estado até à infinitude. Tudo políticas que fariam corar qualquer socialista moderado. Mas Costa não cora, não é essa a sua natureza. Como não corou quando exigiu a queda de António José Seguro depois de este ter vencido eleições. Como não corou quando, depois de ele mesmo ter perdido eleições legislativas, insistiu em ficar e em alcançar a solução que hoje lhe permite mandar no partido e no Governo. E como, naturalmente, também não corou no momento em que Francisco Assis, quando exercia o seu direito à liberdade de opinião no palco do congresso, foi alvo de bullying político pelos seus camaradas. Não é por mal; é porque Costa está, como é bom de ver ao analisar momentos chave da sua vida política, frequentemente para lá da realidade, daquilo que está a acontecer no momento. Haverá quem diga que essa indiferença, essa espécie de alienação, o desumaniza. Eu digo outra coisa: é esse o segredo que mais e melhor explica o seu sucesso.
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Através da observação da sua linguagem corporal poderá identificar o tipo de liderança parental, recorrendo ao modelo educativo criado porMaccobye Martin.
Ficaram por ali hora e meia a duas horas, comendo e bebendo, até os algemarem, encapuzarem e levarem de novo para as celas e a rotina dos interrogatórios e torturas.
Já muito se refletiu sobre a falta de incentivos para “os bons” irem para a política: as horas são longas, a responsabilidade é imensa, o escrutínio é severo e a remuneração está longe de compensar as dores de cabeça. O cenário é bem mais apelativo para os populistas e para os oportunistas, como está à vista de toda a gente.