Portugal situa-se cada vez mais no domínio daquilo a que os estudos sobre a política e a justiça italianas do pós-guerra chamavam "lo stato introvabile", ou seja, o Estado dominado por redes clientelares e poderes ocultos que o destruíam
A aplicação da prisão domiciliária a Ricardo Salgado abriu a habitual torneira de perplexidades. O juiz Carlos Alexandre tem poderes a mais, porquê a prisão domiciliária sem "anilha", porque não beneficia Sócrates do mesmo regime, por aí adiante. Perplexidades gritadas, em regra, por criaturas que ainda têm dificuldades em não inclinar a cabeça perante o nome do "dr.Ricardo". Portugal situa-se cada vez mais no domínio daquilo a que os estudos sobre a política e a justiça italianas do pós-guerra chamavam "lo stato introvabile", ou seja, o Estado dominado por redes clientelares e de poderes ocultos que o destruíam como um bem para o cidadão comum. Poderes que privatizaram a esfera pública através de concursos capciosamente contornados; que tornaram a corrupção um acto de contratação pública; que trouxeram as construtoras de qualquer regime e país para as luvas da economia interna; que entregaram o poder legislativo aos advogados mais poderosos e serviram aos seus amigos, como um verdadeiro pitéu, o domínio sobre sectores da comunicação social, construindo um jornalismo de respeitinho e um exército de comentadores amestrados que pulula pelas televisões e rádios do regime. Onde está, afinal, o problema? No juiz, nos seus poderes, na investigação criminal, no aceitar ou não a pulseira electrónica, enfim, percebe-se: afinal também faz parte da estratégia de intoxicação desses serventuários dos novos donos-disto-tudo.
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Para poder votar newste inquérito deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
A condenação do CSMP assenta na ultrapassagem das limitações estatutárias quanto à duração dos mandatos e na ausência de fundamentos objetivos e transparentes nos critérios de avaliação, ferindo princípios essenciais de legalidade e boa administração.
A frustração gera ressentimento que, por sua vez, gera um individualismo que acharíamos extinto após a grande prova de interdependência que foi a pandemia da Covid-19.