O que a minha cabeça decidiu guardar não é o que eu esperava. Talvez esteja lá o resto, arrumado num canto escuro - mas não está à mostra, para que eu agarre.
Aquilo a que a nossa memória se agarra é um mistério. Somos surpreendidos pelos caminhos que nos levam ao passado, e pelo que ficou gravado como importante ou acessório. Há momentos da minha vida que eu acho que vão ficar para sempre; mas depois, como uma brisa inesperada numa noite quente, surgem pensamentos de outras coisas que tomaram o lugar da dianteira. O que a minha cabeça decidiu guardar não é o que eu esperava. Talvez esteja lá o resto, arrumado num canto escuro - mas não está à mostra, para que eu agarre. Lembro-me de uma coisa que me dava segurança na minha infância: eu, já na cama, a ouvir a minha mãe na casa de banho a desmaquilhar-se, a lavar os dentes, a preparar-se para ir dormir. Estava deitado, e a sentir que quem tomava conta de mim estava ali perto. Depois ela deitava-se, e eu punha no rádio despertador o temporizador para 30 minutos, e deixava numa estação que tinha um homem que ligava aos ouvintes para saber deles, fazer-lhes companhia, saber como estavam de saúde - conhecia-os pelo nome -, e por fim escolhiam a música que queriam ouvir naquela noite tão longa que ainda tinham pela frente. Às vezes era apanhado de surpresa, porque havia músicas que não correspondiam às vozes que as pediam.
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.
Trazemos-lhe um guia para aproveitar o melhor do Alentejo litoral. E ainda: um negócio fraudulento com vistos gold que envolveu 10 milhões de euros e uma entrevista ao filósofo José Gil.