Há cada vez mais adolescentes a comprarem dumb phones, telemóveis básicos que só dão para trocar mensagens, e para atender e fazer chamadas. Estão a tentar voltar atrás, até ao dia anterior ao dia em que lhes puseram na mão um ecrã que lhes ia roubar a vida ao redor. E os adultos têm de estar à altura de fazer parte dessa mudança
HÁ UMA RAZÃO para se voltar sempre aos assuntos chatos, e a razão é porque eles não param de chatear. Andamos às voltas, e se regressamos sempre a eles, o motivo é simples: o assunto é grave. Saiu um artigo que diz que em média os adolescentes passam 9 horas ao telemóvel. São corpos que desistiram, num mundo que não se pode dar ao luxo de perdê-los. Os telemóveis, os iPads, e os ecrãs todos que por aí andam, não são o mal do mundo – isso é o que os pais, e avós, e cuidadores insistem em dizer, para se livrarem do mal de terem de se chegar à frente e serem pais, e avós, e cuidadores. O problema é darem desde cedo às crianças a responsabilidade de decidirem o que fazer com um instrumento tão poderoso e viciante, e depois depositar em cima delas a culpa daquilo que as puseram a fazer. Elas estão a aprender a ser gente, e a gente que elas vão ser é em grande parte o resultado daquilo que as ajudaram a construir. Sempre que uma criança passa um dia agarrada ao telemóvel, a esquecer-se de ter a idade que tem, temos de dar três passos atrás e perceber como é que se chegou a esse momento em que ela está fechada para o mundo, com os olhos tão longe. A incapacidade de concentração, de olharem para o que as rodeia sem se aborrecerem por não conseguirem atalhar todos os momentos chatos – a apatia de quem ainda agora começou e já se sente cansado; a angústia de estar em todo o lado sem estar realmente em lado nenhum. Os telemóveis e os iPads são ferramentas incríveis, permitem que estejamos ligados ao mundo inteiro, que guardemos informação numa coisa que nos cabe na mão e nos resolve um número infinito de problemas. Podermos estar num país longínquo e falar com quem nos espera em casa é uma coisa extraordinária. A culpa não é dos telemóveis, a culpa é de quem vê neles um babysitter e sente o alívio que é o silêncio em que as crianças ficam quando os têm na mão. Sabe bem, até não saber; e então aí queixam-se do problema que criaram, como se a tecnologia fosse o lobo mau, como se o telemóvel tivesse vindo para tomar o lugar da empatia e do convívio. Não veio. E a prova que não veio, é que se o largarem em cima de uma mesa e se afastarem, ele não vai a correr saltar para a vossa mão, a pedir que não olhem para mais ninguém.
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