A coisa mais corajosa que vi na manifestação contra os imigrantes foi uma pessoa sozinha a dar a cara e o corpo pela inclusão. Um homem sem tochas, sem tatuagens de ódio, só um homem e os seus princípios – a bravura é isso.
O ÓDIO GANHA braços longos quando as pessoas ao redor se calam. Fica cada um para o seu canto, para que nem as vejam, nem as ouçam, nem agucem a curiosidade sobre o que pensam. Fazem-se de transparentes, acham que é melhor não dizer nada, porque senão ainda arranjam problemas para eles e para os seus. Deixa-me mas é estar calado que isto não é comigo, eles que se entendam. O ódio também nasce do silêncio dos outros, da tolerância calada, do deixa andar, do não olhar para o outro e tratá-lo com o tamanho e a dignidade que ele merece. Estamos tão preocupados connosco, que nem sequer nos damos conta dos que caem ao nosso lado. O ódio pela diferença é a vitória da ignorância; é a desistência da curiosidade, do fascínio, do espanto, da riqueza enorme que a diferença nos pode acrescentar. Em vez disso, há quem ceda à tentação de se encher de raiva e de coisas que fazem disparar o coração para o mal. As manifestações pela inclusão dão que falar porque representam uma maioria a acolher minorias, até serem só um grupo de pessoas felizes por estarem juntas, cada uma com os seus bens e os seus males. Pessoas que se unem para mostrar ao País e ao mundo que não somos todos iguais, que somos todos diferentes, e que essa é uma das grandes alegrias que se tem nesta vida. A diferença é mais parecida connosco do que julgamos – somos sempre diferentes para quem quer tudo igual. Deus me livre de ter à minha volta só pessoas com as mesmas tradições e hábitos que eu. A grande vitória neste sábado que passou não foi a manifestação neonazi ter tão poucas pessoas, foi a festa da inclusão que aconteceu no Martim Moniz ter tantas pessoas e tão felizes. Enquanto se salivava de raiva numa zona da cidade, na outra cantava-se e dançava-se com quem escolheu Portugal para arriscar uma nova vida. Comia-se e bebia-se enquanto se festejava esta riqueza enorme de se estar com pessoas do mundo inteiro. Portugal é dos portugueses e de todos os que o escolheram para começar outra vez. A multiculturalidade é a vitória da aceitação contra a pequenez da exclusão.
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