Ter um objectivo é conferir ao sonho uma direcção, e dar-lhe um propósito. Sonhemos, então, mas não nos esqueçamos de transformar esses sonhos em objetivos, para que possamos viver não só na promessa do que poderia ser, mas no compromisso daquilo que será.
O MEU PAI DEU-ME uma valiosa lição para a vida sem nunca fazer disso uma valiosa lição para a vida: ter sempre um objectivo. Penso muitas vezes na importância que isso tem para que viver seja uma constante descoberta, e não apenas uma sucessão de dias onde o rumo que eles tomam é decidido pelo acaso. Ter objetivos constantes ajuda a ganhar entusiasmo para o que temos pela frente; ajuda a que todos os dias sejam um princípio de qualquer coisa que tem um fim que está lá ao longe, no horizonte. Querer chegar a esse fim é o que entusiasma quem delineou o objectivo, porque sabe que quando lá chegar, está a promessa de um novo começo. Sonhar uma coisa é imaginar todas as oportunidades que a vida nos dá, uma constante procura por qualquer coisa que há-de vir a ser; ter um objectivo é dar-lhes corpo e pôr mãos à obra. Sonhar pode ser ainda o que nos mantém ligados ao mundo, e aos que nos rodeiam. Um dia em que acordamos e temos para onde apontar, é um fogo que se ateia cá dentro. Os objetivos podem ser pequenos, ou podem ter o tamanho de uma vida inteira. Os pequenos objectivos são também pequenas metas que exercitam a auto-estima, porque quando os cumprimos, cumprimos também uma decisão interior que impusemos a nós próprios. Pode ser ir comprar uma planta, ir almoçar com um amigo que precisa de nós – ou nós dele –, ou simplesmente ler um livro que nos revela uma visão da vida que estava adormecida. Os objetivos maiores podem levar uma vida inteira – ou várias –, e mesmo assim não serem cumpridos. Podem ter o tamanho que quisermos, porque mais importante do que isso, é a vontade com que queremos que eles passem da cabeça cá para fora. Sempre que estou com o meu pai, vejo-o cheio de ideias que quer pôr em prática – e algumas delas são para os que ficam, e não tanto para ele. É bonita essa ideia de futuro como um sítio contínuo, em que não se conseguem ver os limites, apenas se sabe que ficam muito para lá de hoje. Acordar sem sonhos por concretizar é uma morte lenta que nos tira preciosos bocados da vida. Chegarmos ao fim do dia e sentirmos que não se acrescentou nada ao dia anterior, pode tirar o ânimo suficiente para se querer que o amanhã volte a aparecer. Há que planear de acordo com o tamanho das nossas vontades, ter objectivos de vários tamanhos para que uns se cumpram, e outros fiquem sempre ali, no canto do olho, à espera de se poderem chegar à frente. Os sonhos põem-nos a cabeça num alvoroço, instigam-nos a sermos mais, a evoluir constantemente e em várias direcções; são fios invisíveis que nos ligam às possibilidades todas. A falta deles é esperar que o vento sopre na direcção que quiser; é ser matéria leve que segue sem rumo. O sonho é uma alegria gratuita, uma vida secreta onde se pode arriscar o impossível sem prejuízo nenhum que não seja o de sonhar outra vez. É um acto de coragem, de inquietação com o que já existe, que passa a compromisso quando se transforma em objectivo. Há uma liberdade infinita no acto de sonhar; uma liberdade que não conhece fronteiras e que não se curva às leis do possível. Sonhar é abrir-se ao infinito. Mas há que sonhar acordado, quando se está no controlo da dimensão do sonho, e não a dormir, quando somos levados a sonhar sem querer. Enquanto se sonha e se definem objetivos, engana-se o tempo. Fazem-se planos com a latitude e longitude que bem entendermos, sem termos de prestar contas a ninguém. Há, no entanto, uma diferença grande entre sonhar e ter objetivos - os objetivos são os sonhos que decidiram arregaçar as mangas e trabalhar. Para transformar um sonho em objectivo é preciso enfrentar uma dura realidade: a de que falhar é uma possibilidade concreta. Os sonhos não falham, porque são feitos de matéria mais leve e indecifrável. Mas os objetivos não alcançados podem deixar cicatrizes que nos lembram das tentativas frustradas. Em qualquer um dos casos, tudo é melhor do que a apatia, essa âncora que afunda a cabeça. A satisfação de ver um sonho realizado é incomparável. É uma vitória em que somos super-heróis do enredo que decidimos criar.
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