O problema e a origem desta onda xenófoba está nos políticos e nas suas políticas. Está em todos nós que, durante anos, não investimos o suficiente na integração, deixando o país impreparado para o fluxo migratório dos últimos anos. Está, também, na falta de políticas salariais e de desenvolvimento regional mais eficazes, permitindo que a desesperança azede e se transforme em ressentimento.
O espetro da xenofobia ronda a Europa. Este domingo, enquanto o CHEGA e grupos neonazi desfilavam contra a imigração em Lisboa, a extrema-direita alcançava o lugar de força política mais votada na Áustria. Aconteceu o mesmo com a AfD (Alternativa para a Alemanha) no estado alemão da Turíngia, e quase nos estados da Saxónia e Brandemburgo, apenas semanas antes. No ano anterior tinha sido nos Países Baixos e no anterior a esse em Itália. Voltando aos dias de hoje, em França, o liberal Macron ignorou a vitória eleitoral da esquerda unida e indigitou Michel Barnier como primeiro-ministro que, precisando da extrema-direita para governar, veio já endurecer a política migratória. Aliás, esta onda xenófoba veio mesmo ameaçar o recém-acordado Pacto de Asilo e Migrações, com vários países a procurar aumentar o controlo sobre as fronteiras.
Por cá, não se auspicia nada de bom. Podíamos falar dos jovens que foram detidos depois de serem agredidos por manifestantes anti-imigração para demonstrar como até as próprias forças de segurança aceleram a clivagem que o racismo e a xenofobia coloca sobre as bases da nossa convivência democrática. Ficava era por dizer que isso não é novidade para muitas pessoas racializadas, desde Alfragide a Odemira. Podíamos, em alternativa, falar da falta de mão-de-obra, que limita o crescimento das nossas empresas, da nossa economia e, consequentemente, dos nossos salários. Mas, nesse caso, esqueceríamos as condições a que muitos imigrantes são sujeitos – casas sobrelotadas, precariedade laboral (desde a agricultura às plataformas), falhas no ensino de português, separação das suas famílias e sujeição às máfias e redes de migração.
O problema não está nos imigrantes, nem em mais um episódio lamentável. O problema e a origem desta onda xenófoba está, mesmo, nos políticos e nas suas políticas. Está em todos nós que, durante anos, não investimos o suficiente na integração, deixando o país impreparado para o fluxo migratório dos últimos anos. Está, também, na falta de políticas salariais e de desenvolvimento regional mais eficazes, permitindo que a desesperança azede e se transforme em ressentimento.
Isso, porém, não chega para explicar tudo. Mesmo em países ricos com boas políticas de integração, o discurso xenófobo cresceu. Há responsabilidades a assacar àqueles que aceitam e assumem o discurso das "portas escancaradas", criando a falsa perceção de que qualquer um imigra para Portugal. Na verdade, os vistos são caros e difíceis de obter. Há responsabilidades daqueles que ampliam problemas, muitas vezes com recurso à mentira. Esquecem-se de referir que muitos setores não funcionavam sem imigrantes ou como estes, além do trabalho, trazem nova vida a territórios outrora desertificados.
Ultimamente, nasceu uma nova forma de (ir)responsabilidade: daqueles que vendem a quimera da redução da imigração. Dizem que o fim das manifestações de interesse motivou uma redução do número de pedidos de residência - resta saber se houve mesmo uma redução da imigração ou só dos direitos dos imigrantes, condenando milhares à condição irredimível de "ilegal". Desiludidos, muitos começarão com apelos cada vez mais estridentes a controlos cada vez mais apertados. Frustrados, alguns acabarão mesmo a votar no CHEGA.
Ortega y Gasset dizia que «nós somos nós e as nossas circunstâncias» mas a política, verdadeiramente, divide-se entre aqueles que lutam a partir das suas convicções e aqueles que lutam a partir das suas circunstâncias. Em tempos difíceis como estes, é preciso a coragem de recusar o oportunismo da xenofobia e cultivar o humanismo e a integração. É preciso ter a dimensão moral e de visão de país para perceber que precisamos de ainda mais imigrantes em Portugal. É preciso mesmo a determinação de tomar o assunto em nossas mãos e, ao título deste artigo, responder – a xenofobia vai parar aqui.
Álvaro Almeida, diretor executivo do SNS, terá dito, numa reunião com administradores hospitalares, que mesmo atrasando consultas e cirurgias, a ordem era para cortar.
O problema começa logo no cenário macroeconómico que o Governo traça. Desde o crescimento do PIB ao défice, não é só o Governo da AD que desmente o otimista programa eleitoral da AD.
Até pode ser bom obrigar os políticos a fazerem reformas, ainda para mais com a instabilidade política em que vivemos. E as ideias vêm lá de fora, e como o que vem lá de fora costuma ter muita consideração, pode ser que tenha também muita razão.
Ventura pode ter tido a sua imagem em cartazes pelo país fora que não engana os eleitores. Os portugueses demonstraram distinguir bem os atos eleitorais.
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O regresso de Ventura ao modo agressivo não é um episódio. É pensado e planeado e é o trilho de sobrevivência e eventual crescimento numa travessia que pode ser mais longa do que o antecipado. E que o desejado. Por isso, vai invocar muitos salazares até lá.
O espaço lusófono não se pode resignar a ver uma das suas democracias ser corroída perante a total desatenção da opinião pública e inação da classe política.
É muito evidente que hoje, em 2025, há mais terraplanistas, sim, pessoas que acreditam que a Terra é plana e não redonda, do que em 1925, por exemplo, ou bem lá para trás. O que os terraplanistas estão a fazer é basicamente dizer: eu não concordo com o facto de a terra ser redonda.