Conheça em primeira mão os destaques da revista que irá sair em banca.
(Enviada semanalmente)
A economia americana teve um desempenho notável durante a Administração Biden, com um crescimento económico significativamente acima de outras economias grandes.
Igual a si próprio, Donald Trump tomou ontem posse como Presidente dos Estados Unidos da América de forma bombástica. Prometeu expandir o território americano (a começar pelo Canal de Panamá), anunciou uma emergência na fronteira sul com medidas draconianas contra a imigração e rasgou compromissos ambientais, anunciando uma política de (literalmente) "drill, baby, drill". Estamos ainda para ver o que Trump realmente quer dizer quando proclama o fim da "instrumentalização" (weaponisation) da justiça e "o regresso da liberdade de expressão".
Os contornos do que será a próxima administração prometem. Já sabíamos que teríamos negacionistas a dirigir o Ministério da Saúde. Descobrimos que na Defesa Trump nomeou um nacionalista que tem tatuado o mote das cruzadas, "Deus Vult" e que enfrenta alegações de violência sexual. Isso são apenas os casos mais chocantes num gabinete com um grau de inexperiência sem precedentes. Tudo é coroado por um Departamento para a Eficiência Governativa que é tão eficiente que tem de ser liderado por duas pessoas, o bilionário Elon Musk e o adversário de Trump nas primárias republicanas, Vivek Ramaswamy.
Tudo isto é tão surreal que é incontornável refletirmos sobre como chegámos aqui. Ao contrário da sua primeira eleição em 2016, onde perdeu o voto popular por quase 3 milhões de votos, a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas de 5 de novembro de 2024 foi inequívoca. Além de ganhar o voto popular e reforçar a sua margem em toda a linha, Trump ganhou todos os "swing states", onde a disputa eleitoral estava mais aguerrida.
Seguramente que haverão várias explicações para este resultado, desde a impopularidade de Kamala ao crescimento do conservadorismo entre jovens, que também se verifica na Europa. O preconceito com uma candidata mulher e a demora na substituição de Biden também terão a sua dose de responsabilidade. Foi, porém, falando de economia e para os trabalhadores que Trump virou eleitorado tradicionalmente democrata. 32 anos depois, James Carville continua a ter razão no mítico conselho que deu à campanha presidencial de Bill Clinton - ainda "é a economia, estúpido!"
Isso deveria ser surpreendente. A economia americana teve um desempenho notável durante a Administração Biden, com um crescimento económico significativamente acima de outras economias grandes, 16 milhões de novos empregos e o ressurgimento da indústria americana na sequência do CHIPS Act, do Inflation Reduction Act e do programa bipartidário de investimento em infraestruturas, que já Trump havia prometido sem sucesso.
Todavia, como se começa a perceber em Portugal, há uma grande diferença entre a realidade e as perceções. De facto, a explicação para a vitória de Trump não é "a economia, estúpido". São os trabalhadores. As razões para a sua insatisfação económica têm sido alvo de amplo debate – desde motivos não-económicos como a guerra até a "amplificação assimétrica" causada pelo nosso ecossistema mediático. Larry Summers e colegas de Harvard e do FMI recentemente publicaram um artigo a justificar o pessimismo popular com o "custo do dinheiro", nomeadamente o impacto de taxas de juro altas no custo da habitação.
Não devemos, também, ignorar a narrativa que Trump criou sobre como a sua vitória teria consequências económicas individuais – desde a sua defesa de tarifas aduaneiras até ao seu bizarro envolvimento com o mundo "crypto" onde, em véspera da sua tomada de posse, chegou mesmo a lançar com invejável sucesso uma "memecoin", uma moeda virtual cujo único propósito é celebrar a sua persona política. Na era em que o sonho de ser milionário se democratizou, a força e o encanto da plutocracia só se intensificou.
Ao longo da segunda Administração Trump, vamos precisar de nos recordar que "só é vencido quem desiste de lutar". Os progressistas vão precisar, porém, de mais do que a perseverança de Mário Soares. Está na hora de traçarmos uma nova agenda económica e política, que responda às verdadeiras inquietações económicas da classe média. A mudança que queremos não poderá ser apenas incremental – praticamente impercetível num mundo em alta rotação – nem apenas dirigida a minorias pobres. A alternativa ao populismo terá de ser tão ambiciosa e direta como os seus inimigos. Com adversários destes, não é hora de falinhas mansas e brandos costumes. Apenas grandes reformas salvarão a moderação.
Enquanto os cidadãos sabem o que move e o que pensa a extrema-direita, da esquerda obtém-se um “nim” em vários assuntos. Isso revela uma fraqueza que afasta mais do que os pormenores programáticos em causa.
Ao fracasso da extrema-esquerda militar juntou-se a derrota de muita direita que queria ilegalizar o PCP. Afinal, nessa altura, os extremismos à esquerda e à direita não eram iguais. Ainda hoje não são, por muito que alguns o proclamem.
Há momentos que quebram um governo. Por vezes logo. Noutras, há um clique que não permite as coisas voltarem a ser como dantes. Por vezes são casos. Noutras, são políticas. O pacote laboral poderá ser justamente esse momento para a AD.
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Para poder votar newste inquérito deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Ficaram por ali hora e meia a duas horas, comendo e bebendo, até os algemarem, encapuzarem e levarem de novo para as celas e a rotina dos interrogatórios e torturas.
Já muito se refletiu sobre a falta de incentivos para “os bons” irem para a política: as horas são longas, a responsabilidade é imensa, o escrutínio é severo e a remuneração está longe de compensar as dores de cabeça. O cenário é bem mais apelativo para os populistas e para os oportunistas, como está à vista de toda a gente.
Com a velocidade a que os acontecimentos se sucedem, a UE não pode continuar a adiar escolhas difíceis sobre o seu futuro. A hora dos pró-europeus é agora: ainda estão em maioria e 74% da população europeia acredita que a adesão dos seus países à UE os beneficiou.