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Mais do que um erro pessoal, esta estratégia de Montenegro tem o defeito de consolidar a dúvida como uma ferida aberta na confiança dos portugueses nos políticos.
Luís Montenegro recusa-se a dar mais esclarecimentos, deixando várias perguntas importantes sem resposta. O Partido Socialista viu-se obrigado a recorrer ao único mecanismo parlamentar para obrigar o Primeiro-Ministro a responder: uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Montenegro quer evitá-la tanto que até prefere ir para eleições antecipadas, apenas um ano depois de ser eleito e no meio de uma situação internacional terrível. Fá-lo apresentando uma moção de confiança, mesmo depois da rejeição de duas moções de censura e sabendo de antemão que esta moção será chumbada pelo PS, posição que o PS anunciou na própria noite eleitoral. Estamos, por isso, perante uma escolha consciente de Montenegro: eleições em vez de esclarecimentos.
Será incontornável para o país discutir o triste caso em que Montenegro se deixou enredar. Como afirma o politólogo António Costa Pinto, "é muito difícil explicar como é que um político experiente comete este erro". A semana passada referi a primeira regra de gestão de crises comunicacionais: "tell it early, tell it all, tell it yourself". Montenegro fez ao contrário, chegando ao ponto de esconder o nome profissional da advogada Inês Varajão Borges que colabora com a sua empresa. Mais do que um erro pessoal, esta estratégia de Montenegro tem o defeito de consolidar a dúvida como uma ferida aberta na confiança dos portugueses nos políticos.
As eleições serão, porém, seguramente sobre muito mais do que isso. Este não é um referendo às irregularidades e imoralidades de Montenegro mas, sim, a escolha de um Parlamento e, consequentemente, de um Governo que possa dar ao país melhores condições de estabilidade política, desenvolvimento económico e justiça social. No passado sábado, Luís Montenegro lamentou "não [ver] ninguém dizer é que este país está hoje melhor do que estava há um ano". Se o Primeiro-Ministro meter a mão na consciência, se calhar é porque não está.
Não está melhor em termos económicos. Sem contar com o ano de 2020, por causa da Covid,o crescimento desacelerou, atingindo o pior ano desde 2015 (1,9%) e o investimento para o pior ano desde 2014 (2,3%). Também o crescimento dos salários desacelerou, não obstante a conclusão de acordos com vários setores da função pública. O Governo distribuiu o excedente que herdou mas, com isso, condenou-nos a um travão brusco da despesa pública em 2027 e 2028, talvez sabendo que não duraria tanto tempo. Não obstante, o investimento público ficou 1400 milhões de euros aquém do previsto em outubro.
Não está melhor em termos sociais. Mais de 300 mil alunos estiveram sem aulas a pelo menos uma disciplina durante pelo menos três semanas, com o Governo a revelar-se absolutamente incapaz de atenuar esta crise. Tanto no verão como no Natal, houve mais urgências fechadas do que no ano anterior e há também mais portugueses sem médico de família do que no ano anterior. Já os preços da habitação estão a subir a um ritmo mais acelerado do que no ano anterior. O Governo não ajuda, desregulando o alojamento local e deixando os jovens 6 meses à espera de resposta no programa de apoio ao arrendamento Porta 65.
Para lá destas áreas o país também está pior. O atraso na execução do PRR está-se a agravar. Houve cortes de 700 milhões na ação climática e atrasos na Lei de Bases do Clima e nos compromissos em matéria de biodiversidade. O Primeiro-Ministro falta a cimeiras internacionais por não se conseguir ligar ao Zoom ou, pior, para jogar golfe com o dono da Solverde. Por fim, porque escrutinar tudo isto deve ser muito chato, o Governo evita responder às perguntas da comunicação social.
O mais impressionante é como é que, em tão pouco tempo, o Governo conseguiu cometer tantos erros. Certamente não terão feito só erros e, seguramente, algumas delas terão continuidade num futuro Governo PS. Todavia, no meio dos erros do caso Spinumviva, importa não esquecer todos os outros. Interrompidos por um golpe sobre absolutamente nada, os portugueses têm nos Socialistas mãos seguras para o país crescer mais, investir mais e servir melhor os portugueses.
Estou farto que passem por patriotas aqueles que desfazem e desprezam tudo o que fizemos, tudo o que alcançámos e, sobretudo, tudo o que de nos livrámos – a miséria, a ignorância, o colonialismo.
Já sabíamos que vivemos numa era de ciclos mediáticos muito curtos. Isso já era o caso com a televisão e passou a sê-lo mais ainda com as redes sociais. Todavia, estes meios deveriam permitir-nos confrontar os políticos com o que disseram ou propuseram no passado. Como se diz na gíria, "a internet não esquece".
Muito trabalho ainda há a fazer. O desconhecimento dos portugueses em matéria de literacia financeira permite muitas tropelias. Por exemplo, permitiu que o Governo baixasse de forma "excessiva" a retenção na fonte, causando os reembolsos de IRS dos portugueses a desaparecer.
Este não é um caso novo. Há precisamente um ano, Luís Meira demitia-se da presidência do INEM depois de sucessivas insistências para resolver o concurso de contratação dos novos helicópteros.
Faça-se o que se fizer, num país onde se ganha mal, baixar o IRS parece sempre bem. Foi aliás essa a política do Partido Socialista nos 8 anos em que governou.
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