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Apesar do país viver a melhor situação económico-financeira em décadas, é com apreensão que encaro o próximo ano.
Se no artigo que aqui escrevi a 24 de dezembro resisti à tentação de falar do Natal, agora a 31 de dezembro convido-vos a refletirem comigo sobre o ano vindouro. Não consigo seguramente competir com as vossas resoluções de ano novo. Mais do que os nossos objetivos pessoais, quero partilhar convosco perspetivas sobre o nosso futuro coletivo no plano económico, social, político, ambiental e internacional. Afinal, apesar do país viver a melhor situação económico-financeira em décadas, é com apreensão que encaro o próximo ano.
1. A economia vai surpreender pela negativa
Atualmente, as projeções macroeconómicas apontam para uma breve aceleração da nossa economia, de entre 1,7 a 1,9% em 2024 para entre 1,9 e 2,4% em 2025. Ainda que se mantenha acima da media da UE e da Zona Euro, o segundo ano do Governo da AD deverá ficar aquém do crescimento do último ano de governação PS (2,5%). As previsões para 2026 e 2027 não são mais animadoras. Onde está o crescimento de que Montenegro falava?
De facto, crescer é mais do que uma ambição eleitoral. Entre a instabilidade política em França e na Alemanha e as taxas alfandegárias que Trump quer cobrar, não faltam motivos para tanto a procura externa como o investimento estrangeiro arrefecerem. A isto somar-se-á, naturalmente, o custo da própria instabilidade nacional e da incapacidade do Governo em ter um desígnio ou uma política económica consistente.
Os sinais são preocupantes. Os despedimentos coletivos cresceram 40% face a 2023. As famílias poupam 10,7% do seu rendimento disponível, um salto de 2,8pp face ao período homólogo. Semelhante nível e evolução apenas têm comparação com a Covid e a recessão de 2009. Já o índice compósito dos gestores de compras (PMI) ficou aquém do seu nível esperado tanto na indústria como nos serviços, antecipando uma desaceleração económica a nível europeu.
2. As tensões sociais estão cá para ficar.
O novo Governo prometeu que iria fechar acordos com várias áreas profissionais. Concentrado nas carreiras especiais da Administração Pública, com o custo de 457 milhões de euros, esta representou mesmo a maior "medida de política" contida no Orçamento. Era algo para o qual o Governo contava com uma ampla base de apoio – o PS até se ofereceu para aprovar um orçamento retificativo se faltasse dinheiro para fechar acordos já em 2024. O problema, tal como o anterior governo havia antecipado, é que se um tem, todos querem e, agora, há um problema de expetativas que se está a manifestar numa nova onda de greves.
Antes fosse isto o maior foco de tensões. Montenegro gosta de vestir o fato de xerife, como aconteceu com os incêndios florestais, os distúrbios em Lisboa ou, mesmo, com a operação policial no Martim Moniz. Ele sabe que esse registo é popular não só por causa de algumas inquietações que as pessoas possam ter com a insegurança ou a imigração mas porque há um prémio na popularidade política para a autoridade e a coragem. Não é só eleitores de extrema-direita que admiram estas qualidades e, por isso, Montenegro continuará a querer parecer uma espécie de Ventura moderado.
As consequências a longo prazo desta estratégia serão desastrosas. Valida-se e alimenta-se as perceções que fazem as pessoas querer votar na extrema-direita, enquanto se degrada as características que fazem de nós um estado de direito. Mas Montenegro sabe que a sua vida política poderá não ser longa o suficiente para pagar essa fatura.
3. O tripartidarismo vai entrar nas autárquicas
Desde março de 2024, o CHEGA consolidou-se como terceiro partido a nível nacional, permitindo-lhe alargar a sua base de recrutamento e organização territorial. Se em 2021 elegeram apenas 19 vereadores, daqui a um ano veremos muito mais concelhos a eleger vereadores da extrema-direita.
Isso não deverá alterar presidências de Câmara. Ao contrário do que sucede em Espanha, onde PP e Vox puderam-se juntar para eleger "alcaides" mesmo em concelhos onde perderam (ainda hoje mantêm 100 coligações autárquicas), em Portugal o edil é sempre o cabeça-de-lista mais votado. Assim, é provável que o PS mantenha a maioria das Câmaras, dado ter ainda 28 municípios de diferença face à AD. Devemos, ainda, assistir a mudança de mãos em muitas capitais de distrito, onde o PS tem várias oportunidades e não só Lisboa e Porto.
A questão, tanto para os socialistas como para a Aliança Democrática, será como governar se uma maioria só for possível um com o outro ou com o CHEGA. Qual será o impacto na alternância e alternativa democráticas do tripartidarismo forçar a maioria dos autarcas a um bloco central?
4. As alterações climáticas vão-se acelerar catastroficamente
2024 foi já o ano mais quente de sempre, tendo pela primeira vez superado o limiar dos 1,5ºC que o Acordo de Paris tinha estabelecido. A velocidade do aquecimento está acima das expetativas e a acelerar e apenas as 10 catástrofes climáticas mais significativas deste ano causaram 229 mil milhões de dólares em danos diretos e 2 mil mortes.
O próximo ano será, seguramente, pior e não seria surpreendente que Portugal pudesse voltar a sofrer um "megaincêndio", cheias dramáticas como as de 2022, secas severas e até mesmo tornados. Como tive oportunidade de propor em março de 2023, é urgente avançar-se com a criação de um Fundo de Garantia para os Riscos Climáticos e Sísmicos, assegurando melhor proteção dos portugueses contra estes desastres.
5. A Europa estará presa num impasse
A eleição de Donald Trump devia ter sido um momento para a Europa cerrar fileiras. Trump não esconde como pretende ameaçar não só o comércio internacional como também a aliança atlântica e a segurança no flanco leste da Europa, com cedências a Vladimir Putin.
O isolamento da Europa é geopolítico, com África e América Latina cada vez mais rendidos à influência sino-russa, mas também económico, como tão bem o relatório Draghi apontou. Jean Monnet escreveu que "a Europa [seria] forjada nas crises", a Europa continua num impasse, com uma grande dose de responsabilidade no eixo franco-alemão onde tem faltado não só a estabilidade interna como a capacidade de traçar os próximos passos da nossa casa comum. Valha-nos António Costa na ardilosa tarefa de construir uma geringonça europeia.
Álvaro Almeida, diretor executivo do SNS, terá dito, numa reunião com administradores hospitalares, que mesmo atrasando consultas e cirurgias, a ordem era para cortar.
O problema começa logo no cenário macroeconómico que o Governo traça. Desde o crescimento do PIB ao défice, não é só o Governo da AD que desmente o otimista programa eleitoral da AD.
Até pode ser bom obrigar os políticos a fazerem reformas, ainda para mais com a instabilidade política em que vivemos. E as ideias vêm lá de fora, e como o que vem lá de fora costuma ter muita consideração, pode ser que tenha também muita razão.
Ventura pode ter tido a sua imagem em cartazes pelo país fora que não engana os eleitores. Os portugueses demonstraram distinguir bem os atos eleitorais.
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O espaço lusófono não se pode resignar a ver uma das suas democracias ser corroída perante a total desatenção da opinião pública e inação da classe política.
O regresso de Ventura ao modo agressivo não é um episódio. É pensado e planeado e é o trilho de sobrevivência e eventual crescimento numa travessia que pode ser mais longa do que o antecipado. E que o desejado. Por isso, vai invocar muitos salazares até lá.