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Não é porque a vítima é "fraca" ou "ignorante" que permanece numa relação abusiva. Basta perceber o que se segue após a denúncia para concluir que uma vítima tem mesmo de ter muita coragem para enfrentar a dúvida e olhar que sobre ela vai recair, por parte de determinados profissionais e serviços.
Todos nós gostaríamos de acreditar que, se estivéssemos numa relação abusiva, sairíamos o mais rápido possível desta. Certamente que, no momento em que fossemos agredidos, seja física, seja verbalmente, tal marcaria o fim da relação, certo? Mas se tal fosse tão linear, porque é que nos deparamos com situações em que vítimas permanecem com os seus agressores durante décadas? Estudos apontam para uma média de 8 anos e meio a 13 anos e esta realizado pode fazer-nos questionar "Porque é que não procuraram ajuda ou partilharam as suas experiências com alguém?"
No fundo, o que não falta, nestes casos, são verbalizações repletas de ignorância como "a culpa é delas, quem lhes mandou ficar na relação?" ou "se ela fosse mesmo vítima nem tinha engravidado dele". Contudo, a chave para compreender estes comportamentos nunca deverá ser culpabilizar a vítima. A verdade é que, por detrás deste fenómeno, estão processos psicológicos importantes e que muitos de nós desconhece.
Em Portugal, 1.296 pessoas foram acolhidas na Rede Nacional de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica, no último trimestre de 2023, com 6.973 ocorrências de Violência Doméstica participadas à PSP ou à GNR. Com tão grande número de situações, se é verdade que há quem saia de uma relação abusiva mal esta se inicie, também não deixa de ser uma realidade que muitas vítimas permanecem nestas relações.
Diversos fatores podem ser atribuídos à incapacidade de uma vítima sair de uma relação abusiva. Em primeiro lugar, algumas pessoas neste tipo de relações tendem a focar-se nos aspetos positivos da relação (por exemplo, o amor sentido pelo/a parceiro/a), em vez de se focarem nos aspetos negativos (o abuso), para conseguirem lidar com a realidade vivida. Nestes casos, é comum compararem as suas situações com as de outras vítimas ("a minha situação é muito menos grave do que a dele/a, por isso não é abuso"), o que, inadvertidamente, pode levar à sensação de que se deveria estar grato pela relação que se tem ("ao menos ele/a não me bate dessa maneira"). Por outro lado, pessoas que atribuem a responsabilidade da violência aos parceiros também têm uma maior probabilidade de saírem da relação, enquanto pessoas que se autoculpabilizam pelo sofrimento sentido tendem a manter-se. Por outras palavras, vítimas que têm pensamentos como "eu mereci ter sido esmurrado/a, porque não fiz o que ele/a pediu" têm uma probabilidade maior de ficar na relação do que vítimas que pensam "eu não fiz o que ele/a pediu, mas ele/a não tem o direito de me esmurrar".
Outras vezes, há uma dificuldade em reconhecer se se vive, ou não, numa relação de abuso. É preciso existirem agressões físicas? Insultos contam? Esta incerteza, que é mais comum em situações de violência verbal, sexual, ou psicológica, aumenta a probabilidade de as vítimas permanecerem nas relações.
Mas nem sempre a permanência numa relação abusiva é consequência da percebida inação da vítima. Apesar de a maior parte das vítimas tenderem a reportar as suas experiências de abuso, uma grande percentagem destas não é auxiliada. Esta falta de suporte familiar ou social leva a que sintam que não têm "por onde ir", a não ser permanecer onde estão. Se existirem filhos, maior a probabilidade de permanecerem na relação.
Mais complexo ainda, muitas vítimas desenvolvem o que se chama de "desamparo aprendido", isto é, quando somos expostos a sucessivos fracassos ou a eventos fora do nosso controlo, eventualmente aprendemos a desistir de mudá-los, sentindo-nos debilitados pela crença de que estes vão voltar a ocorrer no futuro. A incapacidade de mudar um evento num momento é, assim, generalizada para todos os momentos. Em situações de violência doméstica, uma vítima que é agredida independentemente do que faça ou diga, aprende que qualquer que seja a sua atuação, a agressão vai acontecer. Assim, aprende que nada do que faça vai alterar a sua situação.
Este desamparo aprendido, por sua vez, diminui a motivação da vítima para procurar ajuda (já que sente que tal será inútil), o que, associado a uma falta de suporte da família ou da comunidade, contribui ainda mais para a sua permanência numa relação abusiva.
Vemos, assim, que não é porque a vítima é "fraca" ou "ignorante" que permanece numa relação abusiva. Basta perceber o que se segue após a denúncia para concluir que uma vítima tem mesmo de ter muita coragem para enfrentar a dúvida e olhar que sobre ela vai recair, por parte de determinados profissionais e serviços. A postura atual da nossa sociedade, que coloca indiretamente a responsabilidade e a culpa do sofrimento da vítima na mesma, quase mais do que no/a agressor/a, deve ser dissipada e minimizada, pela compreensão de que há um conjunto de fatores que contribuem para esta permanência.
Acima de tudo, temos de reconhecer que, se não estivermos dispostos, enquanto sociedade, a estar atentos aos sinais de abuso e a mantermos uma postura de não julgamento em relação às vítimas e de abertura à ajuda, então estaremos a contribuir ainda mais para um fenómeno que, anualmente, mata milhares de pessoas em todo o mundo.
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